postado em 09/08/2008 09:24
Com o forte aquecimento do setor, a lista dos materiais de construção, que demoram mais de 45 dias para ser entregues ao consumidor, não pára de crescer. Depois do cimento e da cerâmica, chegou a vez de faltar tijolos artesanais, portas, esquadrias de alumínio, além de outros produtos fundamentais para o acabamento do imóvel. Mas esse problema não é enfrentado apenas pelos pequenos consumidores. Até mesmo as grandes empresas, se não tiverem um bom planejamento ou deixarem as compras para a última hora, correm o risco de ter as obras de acabamento interrompidas. É preciso considerar na programação que, nesse período do ano, a corrida por materiais de construção no Distrito Federal é ainda maior do que o normal devido ao período da seca, que favorece a realização de obras.
Os primeiros sinais de desabastecimento começaram a aparecer no ano passado. Na época, os fabricantes ampliaram os investimentos para elevar a produção. No caso do cimento, somente a Votorantim, principal fabricante do país, aplicou R$ 750 milhões no Centro-Oeste. Os pequenos empresários, por outro lado, mesmo com a possibilidade de lucrarem mais, estão preferindo deixar de atender novos clientes a retirar dinheiro do bolso para se aproveitar da onda favorável da construção civil.
Capacidade
Isso é o que ocorre com a olaria do tenente aposentado José de Aquino Giarola, localizada na cidade satélite de São Sebastião. A capacidade de produção de Giarola é de 3,5 mil tijolos por dia, sendo que a demanda chega a cinco mil. Atualmente, para atender a forte procura por sua mercadoria, o tenente aposentado terceiriza os serviços para outros cinco trabalhadores. ;Até outubro tenho que fazer a entrega de 160 milheiros. Estou fazendo de tudo para dar conta e cumprir as datas acertadas para entrega;, afirmou o proprietário da olaria.
Segundo ele, o elevado custo para a contratação formal de novos trabalhadores inviabiliza o aumento da fabricação da mercadoria. ;Não compensa esse investimento. Meu lucro não seria significativo;, ressaltou. O milheiro de tijolos é vendido por R$ 160 na olaria. Na loja, o preço chega a R$ 450. Giarola disse ainda que não promove reajuste de preço para se aproveitar do forte demanda. Ele é uma exceção. Tanto é que a menor oferta do produto no mercado já se reflete no valor das mercadorias. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o preço do tijolo teve uma alta de 2,38% em julho, o maior percentual verificado desde dezembro de 2006 (3,02%).
A dona de casa, Sonia Maria Campos Gomes Fernandes, é uma das clientes do Giarola e terá que aguardar, pelo menos, um mês para receber os 13 milheiros encomendados. ;Ele (o dono da olaria) não quer dar nem prazo de entrega. O pagamento será feito no momento em que eu receber os tijolos;, afirmou Sonia, que está insegura com relação ao período que terá que esperar pela mercadoria. Enquanto não aguarda o produto, os pedreiros de dona Sonia tentam acelerar a finalização de outros serviços. ;Comprei muito material para construção, mas o produto que vai demorar mais para chegar é o tijolo artesanal;, acrescentou.
Apreensão dos grandes
As dificuldades enfrentadas pelos pequenos afligem também grandes construtoras, que se valem de planejamento e compras antecipadas para evitar atrasos nas obras. ;O material não chega a faltar, mas está mais difícil. O prazo de entrega das indústrias aumentou, então nossa vantagem é encomendar com muita antecedência. Quem compra no sufoco está ficando sem material;, disse o presidente da Via Engenharia, Fernando Queiroz.
As fábricas estão pedindo mais tempo para uma série de insumos importantes ao setor de construção. No caso das cerâmicas, o prazo de entrega passou de 45 para 60 dias, em média. O alumínio das esquadrias, que antes chegava em dois meses, agora leva três. O quadro se repete para portas, concreto e mesmo aço.
;Em geral o tempo de entrega aumentou em 20 a 25 dias. E todo mundo está sentindo, do mercado formiguinha às grandes empresas. Como a gente compra muito, fica mais fácil negociar. Mas o aquecimento do setor é tanto que há dificuldades em vários segmentos. Atualmente, se as obras estão atrasando, é por falta de insumo;, avaliou o diretor da PauloOctávio, Marcelo Carvalho.
Ele contou que o escoramento das lajes de um novo shopping do grupo teve que vir do Nordeste, pela dificuldade encontrada com fornecedores mais próximos. ;Hoje vemos fila para comprar betoneiras. Nós mesmos tivemos que trazer elevadores e escadas rolantes da China porque não conseguimos fornecedores disponíveis nem no Brasil, nem dos Estados Unidos;, frisou Carvalho.