postado em 17/08/2008 09:35
Depois da explosão do número de faculdades particulares na última década, o mercado brasiliense vive agora uma difusão do ensino superior pelas cidades periféricas da capital federal. Em busca da melhor distribuição da massa salarial verificada no país nos últimos anos, instituições que tinham no Plano Piloto seu principal mercado estão se espalhando por outras praças. Com investimentos na casa dos milhões, os empresários tentam abocanhar uma fatia graúda de estudantes que querem ter em seus diplomas o mesmo registro dos moradores da região central da capital federal. Em alguns casos as mensalidades sofrem descontos para assegurar a demanda, mas a inadimplência não é maior do que a das escolas do Plano Piloto, onde moram os brasilienses com maior renda.
O incremento no número de instituições privadas foi bem maior na capital federal que no restante do país. Em 1997, eram apenas 13 em todo o Distrito Federal. No último levantamento feito pelo Ministério da Educação, em 2006, foram contabilizadas 73. Um aumento de quase 500%, mais que o dobro do salto dado na média nacional, de 200%. A quantidade de alunos atual, mais de 103 mil, é 251% maior que a registrada em 1997. São pessoas que, com uma sobra no orçamento familiar, sonham aprimorar o currículo.
Morador de Ceilândia e desempregado, Adriano Batista, de 21 anos, foi aprovado recentemente no vestibular. O curso não é o que sonhava fazer, mas o fato de a faculdade ser perto de casa pesou para que a escolhesse na hora da inscrição. ;Queria engenharia, mas vou fazer administração porque é aqui perto de casa. Depois tenho que conseguir um estágio para pagar a mensalidade, de R$ 448, mas quero continuar estudando;. Para efetivamente cursar a faculdade, terá que contar com o estágio ou com uma bolsa, conta, já que o salário da mãe, terceirizada dos Correios e estudante do ensino médio, não será suficiente para arcar com mais uma despesa.
Com investimentos que devem chegar a R$ 55 milhões nos próximos três anos, o Iesb está iniciando as obras para erguer seu terceiro câmpus, em Ceilândia. A primeira parte da obra será inaugurada em março de 2009. Para os próximos meses, alugou um prédio que abrigará os primeiros alunos. O vestibular está em andamento, para alguns cursos já foi concluído, mas a demanda ainda está aquém da esperada. Mas não por falta de mercado, na avaliação da diretora-geral do instituto, Eda Coutinho Barbosa Machado. ;Não foi por falta de interesse, nem de renda, acho que ainda não soubemos divulgar da forma adequada. Nesta região tem uma quantidade razoável de pessoas da classe C que podem investir em educação. Nos próximos meses acho que vamos crescer muito;, aposta.
Mudança de foco
Há três anos a Unieuro também deslocou seu foco da Asa Sul para Águas Claras. Atualmente já são 4,2 mil alunos, quatro vezes mais que no início. Dos alunos, 34% são de Taguatinga, 19% de Ceilândia e 12% de Águas Claras. O restante se divide por moradores das cidades próximas. ;Há um aumento de renda e da conscientização de que é preciso estudar, por isso investimos em outros públicos;, afirma o diretor-geral da unidade de Águas Claras, João Bacelar. Nos próximos três anos o grupo planeja se deslocar também para Sobradinho. A UniBrasília foi outra instituição que investiu no público de fora do Plano e abriu uma unidade no Gama, além da Asa Sul.
O foco na pulverização atingiu até mesmo a Universidade de Brasília (UnB), que após 46 anos de existência expandirá sua atuação. O Ministério da Educação autorizou o repasse R$ 35 milhões até 2010 para a construção de três câmpus, em Ceilândia, Planaltina e no Gama. Ao todo serão 13 cursos, nas áreas de saúde, engenharia e meio ambiente. Na próxima segunda-feira já saem os nomes dos primeiros aprovados no vestibular.