Jornal Correio Braziliense

Economia

Estudo da USP aponta déficit de 6% na oferta de oficiais da Marinha Mercante

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"Navegar é preciso, viver não é preciso", já dizia o poeta português Fernando Pessoa. Mas já faltam profissionais para navegar. Estudo feito pelo Departamento de Engenharia Naval da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) indica que existe um déficit de 6% entre a oferta de oficiais de Marinha Mercante e a demanda do mercado. A situação tende a piorar nos próximos anos. Em 2013, esse déficit será de mais de 30%, ou cerca de 1.400 profissionais. A demanda, considerando as atuais encomendas de navios, será de 4.465 oficiais, enquanto que as escolas terão formado apenas 3.046 pessoas. O aumento de demanda será puxado pela ampliação da frota nacional. Somente o Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) da Transpetro, subsidiária da Petrobras na área de transporte, prevê a contratação de 48 navios. Dez deles foram encomendados ao Estaleiro Atlântico Sul, em implantação no Complexo Industrial Portuário de Suape, sendo que o primeiro singrará os mares em 2010. Fora plataformas, embarcações de apoio marítimo, longo curso e cabotagem. "Temos uma carência que tende a se agravar. É preciso que todos tenham conhecimento de um problema que pode ser muito prejudicial ao país. Estamos na iminência de um apagão marítimo", diz o coordenador da pesquisa, engenheiro Guilherme Lobo. Segundo ele, o déficit previsto tem condições de perturbar o equilíbrio do mercado, trazendo enormes prejuízos à navegação. Pode, até mesmo, atrapalhar o programa de produção de petróleo da Petrobras em função da descoberta de novas reservas na chamada camada do pré-sal, que vai do Espírito Santo a Santa Catarina. O diagnóstico coordenado por Lobo, sob supervisão do professor Rui Botter, foi feito considerando informações das duas escolas de formação de oficiais de Marinha Mercante - o Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (Ciaga), no Rio de Janeiro, e o Centro de Instrução Braz Aguiar (Ciaba), em Belém. Considera, ainda, informações de armadores (empresas que operam os navios) e outros documentos, inclusive do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás (Prominp). "A situação é muito preocupante. Hoje já há uma dificuldade de contratar pessoal especializado, de forma que o déficit previsto no estudo pode até ser considerado conservador", dispara o vice-presidente do Sindicato Nacional dos Armadores (Syndarma), Ronaldo Lima. Foi o Syndarma que encomendou o estudo. Para tentar evitar um colapso, os armadores pedem a abertura de novos cursos e permissão temporária para contratar profisisonais de Marinha Mercante estrangeiros. Como se não bastasse a oferta insuficiente de profissionais, há outro problema que incomoda: a alta taxa de evasão. O estudo mostra que, em 2007 essa taxa chegou a 75%, excluindo os aposentados. A evasão é maior entre as mulheres. É considerado evadido o profissional que não está embarcado nem vinculado a nenhuma embarcação. "Como o curso é de nível superior, muita gente se forma e vai atuar em outras áreas", observa Ronaldo Lima.