Economia

Sem emprego formal, muitos trabalhadores recorrem à informalidade no DF

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postado em 18/08/2008 08:16
Com taxa de desemprego acima da média brasileira, o Distrito Federal está longe de ser um oásis em oferta de postos de trabalho. Sem conseguir uma empresa para assinar a carteira, mesmo com todas as desvantagens, muitas pessoas recorrem à informalidade. Basta passar por um sinal de trânsito movimentado no Plano Piloto ou em qualquer cidade- satélite para ver homens, mulheres e até crianças enfrentando poeira, chuva, sol e frio. No mercado persa da rua, as janelas dos carros viram bancas. A renda mensal de um ambulante varia de R$ 300 a R$ 5 mil líquidos. Diversificar a oferta foi a forma encontrada pelos vendedores para conquistar o consumidor. Itens básicos como panos de prato e de chão, frutas da estação, e outros mais supérfluos ainda ; como miniuniformes de futebol para enfeitar os vidros dos carros (veja quadro) ; estão na lista. Lucinéia Gaspar, 23 anos, está nos semáforos há quatro anos. Sem direitos trabalhistas mínimos, obrigada a cumprir jornadas duras de trabalho e constantemente exposta a riscos, a comerciante é uma espécie de síntese do drama vivido por quem disputa espaços com automóveis e motos. ;Já vendi panos de prato e de chão, passo de uma coisa para outra, o importante é não ficar parada;, diz. Vale tudo Na tentativa de melhorar de vida de forma honesta, vale tudo. Os primos Walmir Marques, 24 anos, e Leo Nunes, 21, viajam cerca de 90 quilômetros de Alexânia (GO) a Taguatinga para vender mexericas produzidas no sítio da família no município goiano. A decisão de trabalhar tão longe de casa foi tomada depois de longa busca por emprego. ;Quando muda a época, trazemos jabuticaba também plantada lá. Assim dá para tirar um dinheirinho;, conta Walmir. Os preços vão de R$ 2 a R$ 20 dependendo não apenas do que se compra como também do local onde o ambulante fica. O boneco do personagem Pica-pau, por exemplo, é encontrado no Plano Piloto por R$ 20, mas pode ser achado por R$ 13 no cruzamento da QNL entre Taguatinga e Samambaia. Aliás, é nesse endereço que o Correio encontrou a maior quantidade de vendedores concentrados. Em horário de pico, chega a ter 50 pessoas comercializando de tudo um pouco: água, brinquedos, frutas, enfeites, balas e panos de chão. ;É melhor que trabalhar para os outros;, resume a vendedora de dindim, guloseima conhecida como geladinho em outros estados do país. GDF quer fim da ilegalidade Apesar de perigoso, o trabalho nas ruas pode mudar a vida de muitas pessoas. O mineiro Waltair Fagundes da Rocha, 46 anos, vende panos de chão há seis anos e graças a isso conseguiu comprar sua casa em Santo Antônio do Descoberto. Marco Antônio Gomes, 34, aproveitou a experiência no sinal para abrir seu próprio negócio. Depois de quatro meses de trabalho na rua, conseguiu a ajuda da família e inaugurou sua empresa de auto-peças. Hoje, tem duas lojas. No que depender do governo local, no entanto, essa atividade econômica está com os dias contados. ;A nossa intenção é retirar todas essas pessoas das ruas, cadastrá-las e levá-las para a legalidade;, afirma Rôney Nemer, diretor da Agência de Fiscalização do GDF. A idéia, explica, é criar oportunidades de emprego para essas pessoas. A tarefa não vai ser fácil. O desemprego no DF atinge 16,9% da população economicamente ativa, o equivalente a 225 mil pessoas (veja quadro). A solução para muitos, obviamente, é a informalidade. As estatísticas, no entanto, mascaram essa informação, pois misturam vendedores ambulantes e trabalhadores liberais na mesma categoria de autônomos. Para sair da chamada ilegalidade, alguns dos vendedores ouvidos pelo Correio disseram preferir pagar uma taxa ao governo. Waltair faz questão de contar que trabalha por conta própria e compra produtos de empresas do DF pagando imposto por isso. Outros, como João dos Santos, 29, recebem a mercadoria antes de cada dia de trabalho. O difícil é saber qual o melhor caminho para formalizar esses trabalhadores.

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