postado em 23/08/2008 08:39
Os preços do petróleo encerraram a sexta-feira com queda de mais de US$ 6 depois do fortalecimento da moeda americana e da reabertura de um oleoduto que transporta óleo cru do Mar Cáspio para o Mediterrâneo. No New York Mercantile Exchange (Nymex), o barril ;light sweet crude;, para entrega em outubro, novo contrato de referência, encerrou em US$ 114,59, perdendo US$ 6,59 em relação ao fechamento de quinta-feira. Em Londres, o barril de brent do Mar do Norte, para entrega em outubro, perdeu US$ 6,24, a US$ 113,92, mas ganhou US$ 1,37 na semana. Analistas avaliaram que com a performance de ontem, os preços da commodities, que haviam subido mais de US$ 5 na quinta-feira, reverteram a tendência diante da queda do euro frente ao dólar no mercado cambial.
Após superar US$ 1,49 na quinta, o euro era negociado a US$ 1,47, ontem. Em geral, a queda da moeda americana em relação às principais divisas do mundo estimula os investidores a comprarem matérias-primas para proteger seus portfólios da inflação. Já a valorização do dólar provoca o efeito inverso.
Oleoduto
Outro fator determinante citado pelos analistas de mercado foi o fato de a Turquia ter anunciado a reabertura do oleoduto BTC (Baku-Tbilisi-Ceyhan), fechado em 5 de agosto após a explosão de um aparelho de bombeamento, no leste do país. Diariamente, passam por esse oleoduto 1,2 milhão de barris, do mar Cáspio para a Europa.
Outro fato adicional é que tendência é de redução na demanda por petróleo, devido à desaceleração dos Estados Unidos, Japão e países europeus, fato que deve provocar queda na cotação. Os americanos, que absorvem cerca de 20% da produção mundial de óleo cru, consumiram 3% a menos em produtos petroleiros nas últimas quatro semanas, em comparação ao mesmo período do ano passado.
No mercado doméstico, as notícias que beneficiaram a recuperação das bolsas internacionais foram as mesmas que puxaram os preços das commodities para baixo e, por tabela, levaram a Bovespa a interromper três sessões seguidas de elevação. Guiada por Petrobras, Vale e companhias siderúrgicas, a Bolsa terminou a sexta-feira com ligeira baixa, de 0,15%, mas conseguiu garantir alta de 2,96% na semana.No mês, ainda acumula perdas de 6,14% e, no ano, de 12,58%.
A Bovespa foi influenciada pela venda principalmente de papéis ligados às commodities, que terminaram em baixa após notícias que fortaleceram a moeda norte-americana.
O dólar subiu ante o real, após três baixas consecutivas, acompanhando a correção das cotações no mercado de moedas. A sinalização do presidente do Fed, Ben Bernanke, de que não está inclinado a elevar o juro, prevendo menor pressão sobre os preços, deu força ao dólar e às bolsas internacionais, enquanto os preços do petróleo e matérias-primas recuaram.
De olho nesse movimento, os investidores no mercado doméstico reverteram parte das vendas recentes à vista e a futuro, reconduzindo as cotações à alta. O fluxo cambial relativamente equilibrado ajudou na melhora do volume de negócios. No fechamento, o dólar estava na máxima do dia, cotado a R$ 1,628, em alta de 1,12% na BM e no balcão.
Commodity pode levar à miséria
A administração dos recursos provenientes do petróleo na camada de pré-sal da Bacia de Santos merece atenção especial do governo, que deveria se preocupar primeiro em levantar os recursos necessários para a exploração, e, somente depois, debater a aplicação do dinheiro arrecadado com esse tipo de riqueza. A recomendação foi feita pelo diretor da Harvard University, Ricardo Hausmann, durante o Seminário Internacional Brazil;s Growth Diagnosis, promovido pelo Ibmec em São Paulo.
;Sou venezuelano e posso falar como destruir um país que tem petróleo;, ironizou ele, que já foi ministro da Fazenda daquele país. ;Quando estava no governo, criei um fundo de estabilização do petróleo, que acabou sendo copiado e usado apenas pela Colômbia;, comentou. Para Hausmann, o mais importante no momento é discutir de onde surgirão os recursos necessários para a exploração dessa bacia.
Além disso, segundo ele, os cálculos que estão sendo feitos levam em consideração recursos que só serão obtidos em 2015. Para o diretor, o Brasil deveria ;copiar; os modelos da Finlândia e Noruega. A Finlândia, expôs ele, exportava madeira, passou a fazer máquina para cortar madeira e desenvolveu essa indústria chegando à fabricante de celulares Nokia. Hausmann defende, portanto, que o Brasil busque tecnologia para extrair o petróleo de águas profundas, mas que acabe usando esse conhecimento para outras áreas.
Na administração dos recursos, o diretor defende o modelo norueguês. ;O petróleo é dos brasileiros, mas para quê? Para aposentadoria, como fizeram na Noruega;, afirmou, lembrando que o gasto com a Previdência é da ordem de 14% do PIB Ele chamou a atenção, no entanto, para o fato de que o petróleo é uma commodity volátil e que, por isso, o país não deve gastar os recursos obtidos sem obter uma contrapartida, pois acabaria destruindo empregos e o setor fabril e agrícola, sem trazer outros benefícios. ;É muito fácil criar miséria com o petróleo;, argumentou.
Pré-sal ainda sem definição
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reafirmou ontem que não há decisão do governo sobre o modelo de exploração do pré-sal. ;Tudo o que tem saído na imprensa é mera especulação. A única coisa certa é que sabemos que o Brasil antes esperava ter uma riqueza petrolífera modesta e que, de repente, descobriu ter uma grande riqueza nos esperando no subsolo, de gás e petróleo. Isso torna necessário o desenho de um novo modelo petrolífero. O que é certo é que vai ter outro modelo;, disse.
Mantega negou que o Brasil irá adotar o modelo petrolífero de outro país. ;Cada país tem suas peculiaridades. Nosso modelo não será o da Noruega, o da Rússia, o da Venezuela ou de qualquer outro país. Será o modelo brasileiro, que irá resultar de intensos estudos e discussões;, acrescentouo ministro. Mantega faz parte da comissão interministerial que analisa mudanças na Lei do Petróleo.
Não há consenso
De acordo com o ministro, o governo estuda vária fórmulas e ainda não tem uma a ser destacada. ;Não há ainda nenhum consenso até este momento, porque existem várias alternativas. O governo tanto pode criar uma empresa como não criar, entregar tudo para a Petrobras ou não entregar, fazer empresa estatal, criar um fundo ou criar outro fundo soberano. As alternativas são infinitas;, disse.
Segundo ele, o grupo deverá entregar, até a terceira semana de setembro, alternativas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ;Realmente é um ;problema; muito interessante. O Brasil, a partir do pré-sal, não será o mesmo. Ele já não é o mesmo hoje. Já evoluímos bastante, mas o pré-sal nos consolidará como um país quase de primeiro mundo e com certeza exportador de petróleo;, concluiu.