Economia

Aumentos dos governos ampliam disparidade entre rendimentos de servidores e empregados em empresas

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postado em 24/08/2008 08:45
A política de reajustes que beneficiou os servidores nos últimos anos intensificou o abismo existente entre o serviço público e o setor privado do Distrito Federal. Apesar dos protestos dos trabalhadores públicos, o governo federal e o governo do DF (GDF) têm sido bem mais generosos com seus funcionários nos últimos 10 anos do que as empresas particulares. Um levantamento elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), a pedido do Correio, mostra que a diferença entre os rendimentos pagos no serviço público federal e no setor privado saltou de 237% para 348% entre 1998 e 2008. Já a média salarial paga no GDF, que em 1998 era 125% superior à do segmento privado, passou a ser 265% maior. De acordo com o estudo, os salários dos concursados e comissionados do governo federal que moram em Brasília aumentaram, em média, 16,3% acima da inflação no período compreendido entre o início de 1998 e junho deste ano. O GDF foi ainda mais generoso com seu quadro de pessoal. Os contracheques engordaram 41,9% em termos reais. Na contramão, os brasilienses empregados no setor privado sequer conseguiram recuperar a inflação acumulada desde 1998. Os salários encolheram, em média, 12,4% (veja quadro). Os maiores prejudicados foram os funcionários das embaixadas, consulados, representações partidárias e ocupados na agricultura ; setor definido como ;Outros; no levantamento. Apesar de representarem menos de 1% dos ocupados do DF, tiveram seus salários consumidos pela inflação. Neste ano, eles representam apenas 60% do que significavam há uma década. Quem trabalha na indústria e no comércio recebe atualmente apenas três quartos do que ganhava em 1998. ;A rotatividade no setor privado brasiliense é grande, e com isso os novos contratados entram com salários muito mais baixos, o que puxa a média para baixo. Mas as empresas estão começando a exigir maior escolaridade e com isso pagam melhores salários;, afirma o coordenador da Pesquisa de Emprego e Desemprego, Antônio Ibarra. A rotatividade elevada se deve ao enorme contingente de desempregados. Na última coleta do Dieese, chegavam a 225 mil pessoas, 16,9% dos economicamente ativos. ;Os funcionários do setor privado convivem com a ameaça de desemprego o tempo todo. A pressão é muito forte. Os patrões impõem metas cada vez mais elevadas e precarizam a mão-de-obra. E se o funcionário não se submete, o empregador tem outras milhares de pessoas para colocar em seu lugar;, afirma a presidente da Central Única dos Trabalhadores no DF (CUT-DF), Rejane Guimarães Pitanga. Os ocupados no setor de serviços, que representam mais da metade dos brasilienses, tiveram uma perda de 5,5% na década, apesar de ser deles os melhores rendimentos do setor privado. O valor no mês passado estava em R$ 1.378, 6,2% a mais que em 2007. Querem mais Os ocupados no setor público cobram mais. Esta semana o governo federal deve publicar as medidas provisórias que vão reajustar os salários de cerca de 300 mil pessoas. No total, 1,8 milhão de civis e militares terão o salário incrementado em 2008. ;A gente tem que reconhecer que a política de reajustes progrediu, mas o setor público tem carreiras diferenciadas e diversos setores estão com remuneração baixa;, reclama o secretário-geral do Sindicato dos Servidores Públicos Federal do DF (Sindsep-DF), Oton Pereira Neves. Os funcionários do GDF alegam que os reajustes serviram apenas para recuperar as perdas salariais da década de 90. Poder de compra em recuperação Apesar do histórico negativo, as categorias privadas começam a recuperar o poder de compra. Desde 2003 os salários vêm subindo, e neste ano, já estão aumentando acima da inflação, segundo aponta o levantamento elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em 2008 o rendimento dos empregados de empresas particulares está, em média, 7% superior ao de 2003, já corrigido pela inflação ; pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Só em 2008, o ganho real chegou a 1,7%. A recuperação se deve ao crescimento econômico que diminuiu o desemprego, elevou a renda média e aumentou o consumo interno. Pilar do crescimento da economia, a explosão do mercado imobiliário ajudou a alavancar a renda dos trabalhadores do setor. Somente neste ano já estão 16,5% mais elevados. Em 2007, o segmento pagava, em média, R$ 896. Neste ano o valor subiu para R$ 1.044. ;O salário continua baixo, mas temos conseguido negociar, o que tem sido mais fácil nos últimos anos, com a reativação da construção civil;, afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil e do Mobiliário do DF, Edgard de Paula Vian a. O piso salarial da categoria atualmente está em R$ 468,90 para serventes de pedreiros, e de R$ 728,20 para pedreiros, carpinteiros e eletricistas. Os comerciários também têm tido mais facilidade nos últimos anos, segundo a presidente do Sindicato dos Comérciários do DF, Geralda Godinho. Desde 2002 a categoria tem conseguido repor a inflação, apesar das negociações definidas por ela como ;difíceis; com os patrões. ;Com a inflação baixa é mais fácil negociar, apesar de ainda difíceis. Os empresários sempre falam que estão faturando pouco, usam até notícias negativas de guerra do outro lado do mundo para dizer que os negócios não vão bem;, ironiza Geralda. Os ganhos salariais apontados pela sindicalista, porém, não foram captados no levantamento do Dieese, que engloba, além dos comerciários sindicalizados, os trabalhadores sem carteira assinada e que, muitas vezes, sequer são contemplados com reajustes. De acordo com a pesquisa, o salário médio da categoria ficou estável desde 2003 e caiu 3,1% em relação a 2007. Comissões mais altas Representante de um dos segmentos que mais aceleraram nos últimos anos em função do aumento do crédito, a vendedora Raquel Roveratti, de 53 anos, comemora um aumento do rendimento com comissões mais gordas. Funcionária há 27 anos de uma revendedora de veículos, ela passou a vender 50% mais carros nos últimos anos em função do bom momento vivido pelo setor automotivo brasileiro. Até o início da década, vendia 20 unidades por mês. Atualmente sua média saltou para 30 e o salário chegou a R$ 8 mil por mês. ;O salário nunca foi ruim no setor, mas chegamos a ter salário fixo, sem comissão, em função de acordos que fizemos com o patrão na época dos planos Collor e Bresser. Mas agora está muito bom. Nesses 27 anos nunca vi o mercado tão aquecido.; É com foco no aquecimento econômico que os bancários esperam obter em 2008 um ganho real bem superior ao índice médio dos últimos anos. Desde 2004 os percentuais acima da inflação giram em torno de 1%. A campanha salarial, que teve início neste mês, reivindica um aumento de 5% acima do INPC. A pauta entregue aos patrões prevê um reajuste de 13,23%, de acordo com o secretário de Imprensa do Sindicato dos Bancários, Eustáquio Ribeiro. O aumento valeria para os bancos públicos e privados. No DF, 80% dos bancários trabalham na Caixa Econômica Federal, no Banco do Brasil ou no Banco de Brasília.

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