postado em 29/08/2008 08:48
São Paulo - O crescimento do volume de crédito à disposição do consumidor brasileiro tem alimentado, entre os especialistas, temores de aumento excessivo do endividamento e disparada da inadimplência. Porém, Walt Macnee, presidente de mercados globais da MasterCard, não vê o risco de se repetirem no país os exageros que levaram à crise das hipotecas de alto risco ("subprime") nos EUA.
"Uma das coisas que saíram de controle por lá foi o psicológico das pessoas. A classe média todo ano sentia que estava mais rica porque via seus imóveis se valorizarem. Em muitos casos, a casa financiada era seu único bem, e sobre o primeiro empréstimo tomava-se outro, que alimentava o consumo exagerado. Essa parcela dos consumidores não sabia qual era a sua real situação financeira", disse Macnee durante passagem pelo Brasil nesta semana. Quando os preços das residências começaram a cair e os juros subiram, os mutuários se encontraram com dificuldades em honrar os seus compromissos, dando prejuízo não só para quem lhes concedeu o crédito como para as instituições financeiras que negociavam títulos lastreados em tais financiamentos.
"No Brasil, há uma diferença fundamental", prossegue Macnee. "Os consumidores estão saindo de circunstâncias muito modestas para a classe média. Não ficaram ricos, sua renda não está crescendo desabaladamente, eles estão tendo uma vida mais confortável e podem comprar um pouco mais. O psicológico é melhor aqui. A sociedade aprendeu que não deve usar o cartão para adiar pagamentos, e sim para organizá-los melhor." Na opinião do executivo, os brasileiros parecem ser mais conservadores do que os americanos em termos de gastos também por causa da história de instabilidade econômica e hiperinflação do país. "Talvez isso tenha causado um certo medo, as pessoas ficam mais cautelosas." Por isso, a elevação do volume de compras com cartões de crédito no Brasil é considerada saudável. A MasterCard não divulga números a respeito do seu desempenho em cada país, mas, na América Latina e no Caribe, o montante chegou a US$ 24 bilhões no segundo trimestre deste ano, o que representa uma alta de 19,9% em relação ao mesmo período de 2007. A região responde por entre 6% e 7% do seu faturamento mundial.
Como para outras empresas dos EUA, o avanço internacional acaba compensando a desaceleração do seu mercado interno. "Acho que estamos em recessão, sim, e vai levar um certo tempo até a recuperação efetiva", afirma Macnee. "Entre os emergentes, o Brasil se destaca porque é mais estável. Ficamos confortáveis quanto à estrutura política e às leis."