Jornal Correio Braziliense

Economia

País não deve mudar modelo para pré-sal, diz especialista

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Há 30 anos consultor da Gaffney, Cline & Associates, uma das maiores empresas de consultoria na área de petróleo e gás do mundo, o inglês Robert George sugere que a Petrobras fique à frente da exploração das reservas do pré-sal no Brasil e que o país "não mexa em um modelo que deu certo".

"Não há nenhuma razão óbvia para mudar as regras de modo fundamental. Talvez existam alguns objetivos adicionais que o Estado queira atingir, mas esses mesmos objetivos talvez possam ser alcançados no modelo já existente. É natural que a Petrobras esteja à frente de qualquer decisão que venha a ser tomada", diz.

George participa hoje no Rio do seminário "Os desafios do pré-sal", promovido pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).


Algumas estimativas elevam ao equivalente a 1/3 do PIB brasileiro o valor para explorar as reservas do pré-sal. Qual o melhor modelo para obter esse investimento?.

Robert George - Será necessária uma quantia formidável, e duvido que já se tenha uma idéia clara dos valores que serão envolvidos. Há ainda muito trabalho a ser feito. Talvez a melhor maneira de fazer isso seja o Brasil continuar fazendo exatamente o que faz hoje. Não há nada que obrigue a uma mudança agora.

Embora não haja nada definido, como o sr. avalia a possibilidade de o governo criar outra empresa, 100% estatal, para a exploração do pré-sal?.

George - Duvido que a indústria privada envolvida na exploração goste desse modelo. Se o governo considerar que essa é a solução encontrada e convidar empresas privadas a participar, elas vão dizer que sim. Se a escolha que o setor privado tiver à sua frente for nada ou alguma coisa, ele vai acabar ficando com alguma coisa.

Mas o fato é que o Brasil tem um sistema que vem funcionando muito bem nos últimos dez anos ou mais. Não há nenhuma razão óbvia para que o país mude as regras de modo fundamental. Talvez existam alguns objetivos adicionais que o Estado queira atingir, mas esses mesmos objetivos talvez possam ser alcançados no modelo já existente.

A Petrobras tem muita experiência e é uma líder mundial em tecnologia voltada à exploração em águas profundas e na prospecção de novas reservas, a despeito de qualquer coisa. Por isso, é natural que a Petrobras esteja à frente de qualquer decisão em relação ao modelo que venha a ser adotado.

As empresas envolvidas na exploração no Brasil estão satisfeitas com o modelo oferecido até agora, de licenças de exploração a partir de concorrências. O modelo funciona.

Em que faixa de preço por barril seria rentável a exploração do pré-sal?.

George - Ninguém sabe para onde vão os preços, mas há uma expectativa de que a Opep defenda uma faixa entre US$ 70 e US$ 100 por barril no médio prazo. Mas é difícil prever. Os preços dobraram na primeira metade do ano e agora caíram mais de US$ 30.

O problema de ter perspectivas de preços muito elevados é que os custos de exploração também sobem. O preço das plataformas para esse tipo de exploração dá uma dimensão do problema. O contrato mais recente do tipo, para um período de cinco anos, prevê custos de US$ 600.000 ao dia.

Mas, se os preços continuarem subindo e descendo, tudo fica mais difícil. Numa hipótese: se as empresas pudessem prever que o preço ficará estável em US$ 70 o barril por cinco anos, por exemplo, seria possível realizar um planejamento e trabalhar bem.

Temos assistido a uma tendência de mais Estado nessa área. Como isso afeta a indústria?.

George - Tem havido uma tendência de nacionalismo em torno de reservas nos últimos cinco anos. A conseqüência disso é que não houve um aumento da produtividade no setor. Ao contrário. Nos países em que o peso estatal é maior, a produtividade tende a ser menor, com muita gente do setor privado tomando a decisão de não realizar investimentos diante das incertezas que essa tendência acaba criando. Há um papel importante para o Estado, que é o de maximizar as receitas do petróleo em benefício do país.

Mas esses benefícios talvez só possam ser alcançados com um forte envolvimento do setor privado na operação.