postado em 13/09/2008 09:05
Depois de dias terríveis, beirando o pânico, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) conseguiu recuperar o fôlego e encerrou a semana com ganho de 0,87%. Ontem, especificamente, o pregão paulista avançou 2,19%, para os 52.392 pontos, puxado, mais uma vez, pelas ações da Petrobras, embaladas pela descoberta de mais poços de petróleo na região do pré-sal. As ações preferenciais da estatal subiram 5,10% no dia, o suficiente para zerar as perdas acumuladas na semana e ainda restar ganho de 3,58%. Em apenas três dias, os papéis da Petrobras saíram de um piso de R$ 26,90 para R$ 33, uma variação de 22,7%.
No acumulado do mês e do ano, porém, tanto o Ibovespa, o principal índice de lucratividade da bolsa paulista, quanto as ações da Petrobras apresentam perdas significativas. No caso da Bovespa, o prejuízo em setembro está em 5,90% e, no ano, em 17,99%. Já os papéis da petrolífera perderam 5,44% de seu valor no mês e 24,87% no ano. ;A recuperação do mercado como um todo virá. Mas não será fácil. Os investidores terão de ter muita paciência, pois haverá muita oscilação pela frente; disse Demétrius Borel Lucindo, analista da Top Trade Investimentos.
E o pior, segundo ele, é que todos os fatores que provocaram enormes estragos no mercado nas últimas semanas continuarão atormentando os investidores: medo de recessão nas principais economias do mundo, temor de quebra de bancos (a vítima desta semana foi o Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos) e o recuo das cotações das commodities. ;Esse cenário não mudará tão cedo, pois ninguém sabe ao certo qual o tamanho do buraco provocado pelo estouro da bolha imobiliária americana (subprime), em agosto do ano passado;, afirmou Mário Paiva, analista da Corretora Liquidez.
Risco de quebra
Para se ter uma idéia do que aguarda os investidores, é possível que mais uma grande instituição financeira dos Estados Unidos vá para o buraco: a Merril Lynch. Desde o início da crise imobiliária, as ações da instituição despencaram 82%. Seu valor de mercado hoje está em apenas US$ 26,8 bilhões, quase a metade do que vale cada um dos dois maiores bancos privados brasileiros, o Bradesco e o Itaú ; aproximadamente US$ 48 bilhões. ;São fortes os rumores de que, tão logo feche a venda do Lehman Brothers neste final de semana, o governo americano seja obrigado a negociar o controle acionário da Merill Lynch;, assinalou um analista de um banco estrangeiro.
Na terça-feira, serão divulgados os balanços referentes ao terceiro trimestre de dois gigantes financeiros dos EUA: Goldman Sachs e Morgan Stanley. A expectativa dos analistas é de que o lucro líquido do Goldman fique em apenas US$ 2,06 por ação, valor 66% menor do que o que registrado no mesmo período do ano passado, de US$ 6,13. Já o Morgan Stanley deve apresentar ganho de US$ 1,38 por ação, com queda de 42% sobre o de igual trimestre de 2007 (US$ 1,95). ;Mesmo esperados, tais resultados tendem a mexer com os ânimos dos investidores;, admitiu Paiva. Na quinta-feira, o quase falido Lehman Brothers ratificará o balanço de terceiro trimestre. O resultado prévio mostrou prejuízo de US$ 3,3 bilhões.
Já antevendo o nervosismo, o índice Dow Jones destoou de boa parte do mercado e cravou baixa de 0,10% ontem. Na Nasdaq, na qual são negociadas as ações de empresas de tecnologia, houve alta de 0,14%. Em Londres, o dia foi mais positivo: alta de 1,85%. Na Bolsa do Japão, o índice Nikkei avançou 0,93%, apesar de a economia japonesa ter registrado queda de 3% no segundo trimestre, o que o levou o governo local a pedir às empresas que dêem aumento de salários a seus funcionários para estimular o consumo interno.
Exportadores aproveitam
Com o Banco Central fora do mercado pelo segundo dia consecutivo, os exportadores, que andavam bastante desanimados com os preços do dólar, voltaram com tudo ontem para vender a moeda americana e aproveitar as cotações acima de R$ 1,80, patamar que não se via desde o início do ano. Com isso, o dólar fechou a sexta com a primeira queda no mês, de 2,04%, a R$ 1,781 para venda. No acumulado da semana, entretanto, a divisa ainda registrou alta de 3,79%. E, no mês, está com valorização de 8,93%.
Em meio à discussão se a recente escalada do dólar veio para ficar e qual será seu impacto sobre a inflação, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou estudo do economista Christian Vonbun criticando o volume de US$ 206 bilhões em reservas cambiais acumuladas pelo país. Ele disse que os custos para se manter esse ;seguro contra crises; variam entre 1,02% e 1,03% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano aos cofres públicos, algo como R$ 28 bilhões. ;Trata-se de um seguro muito caro em termos fiscais;, afirmou.
A maior parte dos analistas e, de forma mais enfática, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, têm dito, porém, que as reservas são fundamentais para manter a economia brasileira longe da crise internacional que deixou prejuízos mundo afora.