Economia

Consumidor não gosta de comprar à vista, mostra pesquisa

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postado em 14/09/2008 18:06
O consumidor é mais pão-duro quando vai às compras com dinheiro em espécie. Ele tende a fazer contas e demora mais para soltar a bufunfa. Já nas compras a prazo, feitas principalmente com cartão de crédito, o consumidor sente menos "dor no gasto". A conclusão é de quatro estudos americanos, feitos pela Stern Business School, da Universidade de Nova York, e Smith School of Business, da Universidade de Maryland. Segundo os estudos, os consumidores acabam gastando menos quando pagam à vista, em relação ao pagamento com o crédito. Os pesquisadores notaram ainda que, independentemente da forma de pagamento, as pessoas tendem a gastar menos ao detalhar seus gastos minuciosamente. "Quanto mais transparente o fluxo de dinheiro, maior a aversão ao gasto", afirmam os pesquisadores. Um dos estudos foi feito com 130 pessoas que receberam uma nota de US$ 1 e um vale-compras no valor de US$ 1. No início, elas pareciam mais dispostas a gastar o vale-compras, disseram os pesquisadores. Mas depois que o vale-compras foi mantido na carteira por uma hora (e passou a ser tratado como dinheiro em espécie), o impulso ficou mais fraco. Ou seja, as formas menos transparentes de pagamento tendem a ser tratadas como dinheiro de brincadeira e são mais facilmente usadas. No Brasil, a sensação dos lojistas e consumidores é a mesma. Do total das vendas do comércio da capital, 85% são a prazo, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). "O consumidor dá mais valor ao dinheiro em espécie do que outras formas de pagamento, como cheque e cartão de crédito. Um dado que ilustra bem isso é o alto índice de inadimplência com cartão", afirma Fernando Sasso, gerente de pesquisa e mercado da CDL-BH. Com o dinheiro nas mãos, diz, o consumidor também tem mais noção do seu poder de barganha. "A pessoa passa a ter uma percepção mais clara do valor que vai ser desembolsado", diz. Cada centavo A estudante Ivone Lima faz conta de cada centavo que desembolsa à vista. "Cada centavo faz muita diferença na vida da gente", diz. Semana passada, ela foi olhar um tanquinho para comprar, no Centro da capital. O preço à vista era de R$ 359, ou seis vezes de R$ 67 no cartão (R$ 402) ou 15 vezes de R$ 42 no carnê (R$ 630). Ela prefere parcelar, mas, se fosse para comprar à vista, conta que iria tentar barganhar o preço. "Se tivesse o dinheiro, procuraria um lugar mais barato", diz. A compra à vista, segundo a estudante, sai mais barata. Mas tem algumas restrições. "Se tivesse todo o valor do tanquinho em mãos, poderia financiar também outro produto, como um microondas, que estou precisando. Se compro à vista, só fico com uma mercadoria", diz. A estudante Marisa Euclides prefere fazer todas as compras à vista. "Acho melhor, pago e acabo com o débito. Evito usar cartão de crédito", diz. Anteontem, ela foi comprar brinquedos para os filhos. Pagou tudo em dinheiro. Até mesmo produtos de valor maior, como televisão, ela costuma pagar com dinheiro em espécie. "No fim do ano, por exemplo, eu e meu marido compramos uma televisão por R$ 700. Levamos dinheiro vivo e conseguimos um bom desconto", diz Marisa. As compras à vista representam cerca de 30% das vendas da Sapataria do Amigão, no centro da de Belo Horizonte (MG). O gerente Tiago Ferreira conta que quando o cliente chega com cédulas na carteira, tem mais dó de gastar. "Muitas vezes, chegamos a dar desconto de 5% no preço e a pessoa não leva. A pessoa faz as contas, pensa quanto o dinheiro pode render no banco e deixa de comprar", afirma Tiago. O mesmo desconto não pode ser oferecido nas compras a prazo. "Como as operadoras cobram 2,5% do valor da compra, o desconto não vale nas vendas com cartão", observa.

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