postado em 15/09/2008 11:40
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) não resiste à derrocada generalizada das principais Bolsas de Valores mundiais, após o anúncio do pedido de concordata do banco de investimentos Lehman Brothers. E enquanto o dólar retoma o patamar de R$ 1,8, o risco-país dispara.
"Todo mundo esperava que o Lehman encontrasse um comprador, como ocorreu com o Bears Sterns [banco de investimentos], que foi comprado pelo JP Morgan. Agora, o maior problema é com as contrapartes. Todos esses grandes bancos são muito ligados e provavelmente, alguns vão ter que colocar nos balanços perdas até maior do que o esperado", avalia Cristiano Souza, economista do banco Real.
"Por aqui, o mercado vai ser afetado porque aumenta a aversão ao risco [do investidor global] a qualquer ativo que tenha um risco maior que o papel do Tesouro Americano. Quer dizer, nesse processo, sofrem as commodities, que já estão caindo, e as ações de mercados emergentes", acrescenta. O Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa paulista, amarga perdas de 3,91% e alcança os 50.346 pontos. O giro financeiro é de R$ 1,64 bilhão.
A Bolsa não registra, entre as 66 ações que compõem o índice Ibovespa, um único papel que seja negociado com valorização. Esse rol de ações responde por mais de 90% do giro financeiro diário da Bolsa. As principais ações do mercado brasileiro, Vale do Rio Doce e Petrobras, que respondem por mais de 30% do volume total, despencam, respectivamente, 3,56% e 4,93%. A ação da BM-Bovespa desvaloriza 8,19%.
O dólar comercial é negociado a R$ 1,809 na venda, o que representa um aumento de 1,57% sobre a cotação de sexta-feira (12/09). A taxa de risco-país dispara 9,43% e atinge os 290 pontos.
Na Europa e nos EUA, as principais Bolsas de Valores desabam: em Londres, o índice FTSE cede 4.05%, enquanto o índice Dax, da Bolsa de Frankfurt, retrai 2,85%. Em Nova York, o mundialmente influente índice Dow Jones retrocede 2,17%.
O anúncio do Lehman é mais um episódio da crise dos "créditos" subprimes", que abala o sistema financeiro americano e está na origem da desaceleração das economias centrais. Há semanas, o mercado segue o "drama" do Lehman à procura de um comprador e ainda sob expectativa de uma operação de resgate do governo dos EUA, em moldes semelhantes ao ocorrido com a Fannie Mae e a Freddie Mac, gigantes do setor setor hipotecário.
As duas expectativas, no entanto, foram frustradas: a "solução de mercado" se perdeu, com a desistência dos potenciais compradores - primeiro, o banco coreano KDB, e depois, o britânico Barclays - e neste final, a derradeira "pá de cal" foi jogada, com a indicação do governo americano de que não resgataria o banco de investimentos. O anúncio do Barclays também eleva o nível de nervosismo dos mercados devido ao fator "bola da vez": o mercado se "lembra" de que a situação do setor financeiro americano e europeu continua muito ruim e começa a esperar pela próxima quebra. Analistas lembram, com algum alívio, de que a mais provável "bola da vez" já foi equacionada: o banco Merrill Lynch foi vendido ao Bank of America por US$ 50 bilhões.