Economia

Fed mantém cautela diante de turbulência e segura juros em 2%

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postado em 16/09/2008 15:34
O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) decidiu nesta terça-feira (16/09) manter sua taxa de juros em 2% ao ano, a terceira manutenção consecutiva. Apesar de o CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês) ter registrado deflação de 0,1% em agosto (após a alta de 0,8% em julho) e da crise financeira em bancos de investimento e seguradoras, o Fed optou por manter a cautela. O furacão financeiro que vem abalando Wall Street nos últimos dias acabou ganhando peso, e um corte de juros traria para o primeiro plano o chamado risco moral ("moral hazard", na expressão em inglês) de salvar instituições que assumiram posições muito arriscadas anteriormente. Assim, a redução da taxa, no atual contexto, poderia ser entendida como um sinal de que a economia está mais afetada pelos problemas financeiros que o estimado. O banco de investimentos Lehman Brothers, uma instituição financeira de 158 anos de existência, pediu ontem proteção sob o capítulo da legislação americana de trata de falências e concordatas. O banco vinha procurando um comprador, mas, sem ajuda do governo, candidatos em potencial como o Bank of America e o Barclays desistiram. O Lehman esperava obter ajuda do Departamento do Tesouro - que disponibilizou um pacote de até US$ 200 bilhões para as gigantes hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac ou do Fed - que ajudou o JP Morgan na compra do Bear Stearns, em março. Não obteve ajuda nessas frentes. Depois da reunião de agosto e antes dos problemas do Lehman ganharem o primeiro plano, a Fannie Mae anunciou um prejuízo de US$ 2,3 bilhões no segundo trimestre deste ano. A Freddie Mac também teve um prejuízo acima do esperado no trimestre, com perdas de US$ 821 milhões. As duas empresas detêm ou garantem cerca de US$ 5,2 trilhões de créditos hipotecários, ou seja cerca de 50% do fluxo do crédito imobiliário americano. Além dos problemas do Lehman e das hipotecárias, a seguradora American International Group (AIG) vem se tornando cada vez mais uma fonte de preocupação para o mercado financeiro. As principais agências de classificação de risco --Standard & Poor´s, Moody´s e Fitch - reduziram a classificação da seguradora. desde o início do ano, a companhia já perdeu 93% de seu valor no mercado financeiro. A empresa precisava levantar US$ 20 bilhões para honrar seus compromissos com os investidores e foi autorizada a receber o dinheiro de suas filiais no exterior, segundo David Paterson, governador do Estado de Nova York. Inflação Na ata da reunião anterior, o banco informou que uma próxima alteração nos juros poderia ser para cima. Alguns membros do Fed avaliavam à época que o núcleo da inflação [que exclui os preços dos alimentos e da energia] não ficaria "moderado no próximo ano a menos que a posição da política monetária seja apertada mais cedo do que o esperado". O banco também avaliava, na nota divulgada após a decisão de 5 de agosto, que a preocupação com a inflação continuava. Hoje, no entanto, o Departamento do Trabalho mostrou que o núcleo da inflação teve alta de 0,2% em agosto, menor que a de julho, 0,3%. O banco também avaliava que a atividade econômica americana "deve permanecer baixa por alguns trimestres". O dado da produção industrial de agosto, divulgado ontem, reforçou um pouco essa impressão, devido à queda de 1,1% registrada --a maior desde a passagem do furacão Katrina, em 2005. No dado de inflação divulgado hoje, o departamento mostrou que os preços da energia tiveram uma deflação de 3,1%, reflexo da queda do petróleo - que de US$ 147,27 em 11 de julho, chegou a US$ 90 hoje. A perspectiva de uma economia americana desaquecida fez caírem das projeções de demanda da commodity. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) revisou para baixo a previsão de crescimento da demanda mundial: neste ano deverá ficar em cerca de 86,79 milhões de barris diários, 12% a menos que o estimado há um mês. Mercado imobiliário O mercado imobiliário, que está na raiz dos problemas econômicos e financeiros americanos, ainda mostra sinais de fraqueza. A MBA (Associação de Bancos de Hipoteca, na sigla em inglês) informou no início deste mês que a parcela de imóveis com hipotecas com ao menos um pagamento em atraso atingiu a marca recorde de 6,41%, contra 6,35% no primeiro trimestre do ano. Já o número de novos processos de execução de hipoteca atingiu 1,19% do total, ficando acima da marca de 1% pela primeira vez nos 29 anos em que a pesquisa é feita. As vendas de casas novas nos EUA em julho tiveram um crescimento inesperado de 2,4%, chegando a uma taxa anualizada de 515 mil unidades. O resultado de junho, no entanto, foi revistos para baixo, ficando em uma taxa anualizada de 503 mil unidades, a menor desde setembro de 1991. Em junho, as vendas haviam registrado uma queda de 0,6%. Também entre as reuniões do Fed o governo americano anunciou um crescimento de 3,3% da economia no segundo trimestre, contra uma estimativa inicial de 1,9%. Mesmo assim, a expectativa para os próximos dois trimestres é de crescimento fraco, devido ao fim do efeito positivo do pacote de estímulo aprovado em fevereiro deste ano. O pacote, de US$ 168 bilhões, determinou o envio de cheques aos contribuintes, para serem usados para consumo a fim de fazer avançar a economia do país. Reformas O presidente dos EUA, George W. Bush, pediu ao Congresso no final de agosto que adote reformas em matéria de reduções dos impostos, entre outras, depois de indicar que deveriam responder às preocupações relativas à habitação. "Muitos norte-americanos estão preocupados com a situação de nosso mercado imobiliário e de trabalho. Compartilho essas preocupações sobre nossa economia. No entanto, houve alguns sinais recentes que indicam que nossa economia começa a melhorar", disse. O presidente afirmou ter identificado "sinais de boa recepção" do plano de reativação econômica, que foi aprovado pelo Congresso, depois de citar o crescimento no segundo trimestre e a melhora dos índices do mercado imobiliário.

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