Economia

Em Wall Street, quem pedia filé agora só quer comer hambúrguer

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postado em 19/09/2008 10:08
No Distrito Financeiro de Nova York, não são só bancos e seguradoras que estão sendo afetados pelas turbulências em Wall Street: bares e restaurantes locais, geralmente lotados de investidores e corretores da Bolsa, estão às moscas e relatam queda de até 50% na freqüência. "Você pode sentir o nervosismo no ar", afirmou Angelo Vavouliotis, 34, gerente do popular restaurante Bull Run, na esquina das ruas Williams e Pine. Vavouliotis estima que a quantidade de clientes para o almoço, em queda gradativa desde o início da crise, chegou a, no máximo, metade do normal para esta época do ano. E não é só. "Os clientes estão gastando menos. Quem pedia filé [US$ 35] agora só quer hambúrguer [US$ 15]". Desde o ano passado, a casa reduziu o número de funcionários em 10% a 15%. "Não quero dispensar mais gente, mas vamos ver como será o inverno.". O temor é de uma reação em cadeia: estimativas estaduais dão conta de que cada emprego em Wall Street cria três outros na região metropolitana de Nova York. Só neste ano, Wall Street cortou 25 mil postos de trabalho; outros 10 mil estão na berlinda com o colapso do Lehman Brothers e a venda apressada do Merrill Lynch. Um dos que pode estar a perigo é o garçom brasileiro Ulisses Vieira, 43, há três anos nos EUA e cerca de dois no Bull Run. Ele conta ter atendido vários clientes do mercado financeiro demitidos nos últimos dias: "Chegam carregando caixas com o material do escritório e ficam bebendo até a hora de fechar. Muitos choram. Está assim em todo lugar.". A ordem de seu atendimento também mudou: agora, antes de comer, executivos vão direto para a TV. Na elegante filial do restaurante Cipriani em Wall Street, o clima era o mesmo. Às 15h, havia só dois clientes. O gerente, Adil Avunduk, 29, crê que "as pessoas estão trabalhando freneticamente e não param para comer". O restaurante, que costumava receber cerca de 70 pessoas por dia para o almoço -70% executivos da área financeira-, atende hoje apenas 40. Mesmo no Mangia, uma casa menos sofisticada quase em frente à Bolsa de Valores de Nova York, os efeitos da turbulência foram sentidos. Além do almoço mais vazio, o serviço de buffet particular registra queda ainda mais acentuada, com as empresas cortando o número de coquetéis organizados, segundo a gerência. Parece que, em Wall Street, não há motivo para celebrar.

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