Economia

Crise de energia levaria a ação militar

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postado em 20/09/2008 12:16
Esqueçam a atual redução nos preços do petróleo. Para o professor James Russell, do Center for Contemporary Conflict da Naval Postgraduate School de Monterrey, na Califórnia, a tendência dos preços da energia nos próximos anos voltará a ser de alta e poderá levar à disputa militar por esses recursos. A idéia foi apresentada inicialmente em um artigo que Russell escreveu em janeiro de 2008, com seu colega Daniel Moran, no qual relaciona várias formas de "militarização" de recursos energéticos à vista. Elas incluem tomada de ativos de energia, confronto bélico por áreas identificadas como santuários de novas reservas e alianças militares para proteger ou atacar rotas de transporte de ativos energéticos. A seguir, trechos da entrevista, concedida por telefone, ao Estado: Por que o senhor afirma que há uma tendência à militarização dos recursos de energia no mundo em um futuro próximo? O argumento que apresentamos é que, se os mercados funcionarem, a formação de preços estará em uma contínua trajetória de crescimento, de forma que os governos finalmente perderão confiança nesses mercados para fazer seu planejamento econômico. Os Estados serão levados à idéia de intervenção com força militar para tentar contrabalançar as tendências negativas dos mercados. Na medida em que a confiança no mercado for perdida, veremos o uso da força ser considerado uma ferramenta para lidar com suas situações energéticas. A quais países o senhor se refere? Trata-se de um fenômeno global. Obviamente, temos nos EUA um bom exemplo, no qual há muita insatisfação com o modo como os mercados de energia estão funcionando. O preço da gasolina aqui é pouco mais de US$ 1 por litro e a política local tem como foco os países produtores, como a Arábia Saudita, por exemplo. Então, isso aumenta a pressão política exercida pelas nações consumidoras sobre as produtoras. Então, o senhor não acredita que os mercados possam resolver os problemas de energia no mundo no futuro? Correto. E a coisa interessante que estamos vendo nos EUA, por exemplo, é uma garantia para os mercados financeiros que estão caindo. Mas o objeto da crise agora é a falta de confiança nos mercados para enfrentar a situação. Então, os governos estão intervindo na crise financeira. Estamos falando metaforicamente do mesmo, vamos chegar a um ponto no qual os Estados não confiarão nos mercados (de energia) para entregar o que recebiam E vão intervir para afetar esses mercados. O senhor prevê que o preço do barril do petróleo chegará a US$ 200 e o litro de gasolina nos EUA a US$ 1,85. É possível dizer quando isso poderia acontecer? A história recente sugere que os preços da gasolina aqui nos EUA vão provavelmente dobrar nos próximos anos. Isso pode ter um impacto dramático na política e nas percepções sobre a capacidade do mercado de continuar a satisfazer as demandas dos Estados. Outros países lidam com isso de maneiras diferentes. Os europeus aceitam a idéia de que a taxação sobre energia, por exemplo, é o caminho para controlar a demanda. Mas os EUA não têm a tradição de taxar energia como mecanismo para esse fim. Esses números que o senhor apresentou seriam pontos decisivos para uma mudança de política? São apenas um exemplo de que não podemos prever como os governos reagirão se os mercados de energia apresentarem esse tipo de estrutura de preços. Se os Estados consumidores começarem a culpar os países produtores, haverá uma grande possibilidade de eles se tornarem militarizados e usar a força para manipular o mercado em seu favor. O senhor também argumenta que os políticos americanos não gostariam de mandar o eleitorado economizar energia, não é? Na política americana, você não acha um candidato que percorra o país dizendo aos americanos que apertem os cintos e paguem mais impostos. É mais fácil jogar a culpa pelos problemas das pessoas em forças externas. Quais forças poderiam protagonizar essas disputas? O argumento em nosso artigo é que terroristas e atores não-estatais não são realmente significativos para o funcionamento dos mercados internacionais. A infra-estrutura mundial é muito bem desenvolvida. É possível conceber um tipo de ataque contra o terminal de exportação de óleo saudita de Ras Tanura, por exemplo. Mas é um feito difícil para grupos não-estatais, pois os sauditas levam a segurança dessas instalações muito a sério. O Brasil descobriu recentemente uma grande área de petróleo no mar. Isso poderia causar algum tipo de problema para o País? Tornou-se um problema para os brasileiros tentar lidar com essas questões. Esse tipo de coisa tem de ser considerada pelo Brasil e por todos os Estados que são consumidores e produtores de energia.

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