Economia

Crise faz o varejo pensar em reduzir encomendas para o fim do ano

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postado em 20/09/2008 12:58
A crise financeira internacional fez acender o sinal amarelo nas negociações entre o comércio e a indústria para as encomendas de fim de ano. Os pedidos para compra de equipamentos eletrônicos, eletrodomésticos e produtos de informática, por exemplo, estão praticamente fechados. Mas, com a recente valorização do dólar, de 2,75% somente na semana passada, já há fabricantes que sinalizaram com uma possível elevação de preços, caso a moeda americana continue em trajetória ascendente e os custos de componentes importados desses produtos fiquem pressionados. Preocupado com um aperto ainda maior no crédito para o consumidor, o varejo também está em estado de alerta e considera a possibilidade de reduzir as quantidades encomendadas, se o quadro piorar. "Todo mundo está de orelha em pé", resume a situação um executivo de uma grande rede varejista. Apesar das incertezas, a crise internacional não deve estragar a festa de fim de ano, concordam empresários do comércio, da indústria e economistas. A expectativa é que o volume de vendas em dezembro aumente cerca de 6% ante igual período de 2007, calcula o diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, com base na Pesquisa Mensal do Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em dezembro d e 2007, o varejo ampliou as vendas em 9,5% em relação a 2006. "O Natal de 2007 foi o melhor dos últimos dez anos, mas, se a taxa básica de juros continuar subindo, as vendas deste ano serão mais fracas", calcula o economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Emílio Alfieri. Ele observa que somente por fatores internos, como a elevação, desde abril, da taxa básica de juros, a Selic - hoje em 13,75% ao ano -, é esperado um crescimento menor nas vendas. Agora, com a piora do cenário externo, a tendência poderá ser de uma perda de fôlego ainda maior no comércio varejista. As Lojas Cem, por exemplo, projetam agora crescimento de 10% nas vendas em dezembro na comparação com as do mesmo período de 2007. Até o mês passado, a rede, com 168 lojas, previa um acréscimo de 15% no período. "Houve mudança de expectativa, mas ainda continuo projetando crescimento", observa o supervisor-geral da rede, Valdemir Colleone. Na avaliação do executivo, o risco maior da crise financeira na economia real é o aumento de preço. "Da mesma forma que nos últimos tempos o real se valorizou em relação ao dólar e o preço dos bens duráveis caiu, daqui para frente poderá ocorrer o inverso", diz Colleone. A Whirlpool, por exemplo, que fabrica fogões, geladeiras e máquinas de lavar das marcas Cônsul e Brastemp, está reajustando, em média, em 5% os preços. Segundo o diretor-comercial e de Logística da companhia, Sérgio Leme, o aumento não está relacionado com o agravamento da crise internacional, mas a pressões de custos acumuladas ao longo do ano que não tinham sido repassadas. Apesar do recuo da cotação das commodities, o aço, por exemplo, já foi majorado em 50% este ano. As resinas plásticas, que refletem a disparada do petróleo no passado, são outro foco de pressão. Leme conta que as lojas já sinalizaram os volumes de encomendas para o fim de ano e, pela média dos pedidos, o crescimento deve oscilar entre 8% 12% em relação a dezembro de 2007. No primeiro semestre, a projeção era que o acréscimo nos volumes fosse de 15% a 20% em dezembro. Sem revelar números, Marise Araújo, diretora do Grupo Pão de Açúcar, informa que os pedidos para dezembro estão fechados. "Talvez ocorra um ligeiro arrefecimento nas vendas, mas ainda será um Natal bom", disse ela.

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