Economia

Empréstimo ao consumidor terá prazo menor e juros mais altos

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postado em 20/09/2008 14:01
O primeiro impacto da crise internacional para o consumidor brasileiro será o maior rigor dos bancos na concessão do crédito. Embora a expectativa de crescimento dos empréstimos continue em alta - pelo menos até dezembro -, as condições devem ficar menos favoráveis, com prazos mais curtos e juros maiores. "Empréstimos de 80 e 90 meses terão as parcelas reduzidas para entre 48 e 60 meses", diz o vice-presidente do Bradesco, Norberto Barbedo. Ele explica que, nesse segmento, o principal fator de preocupação está associado à evolução de emprego e renda, que impacta diretamente os índices de inadimplência. O problema dos bancos, neste momento, não é falta de dinheiro para emprestar aos consumidores, mas a incerteza do que virá, destaca o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira. Segundo o executivo, do ponto de vista de capitalização, as instituições brasileiras estão muito bem e não teriam motivo para reduzir a oferta de crédito. "A maior preocupação é que toda essa turbulência afete a economia interna e mexa nos dois pilares de crescimento do crédito (emprego e renda), elevando o calote. Por isso, os bancos serão mais cautelosos e seletivos. Ninguém vai querer fazer um financiamento muito longo e correr o risco de ter prejuízo." Nos últimos anos, a taxa de crescimento do crédito para pessoa física tem superado a casa de 30% ao ano e sustentado a forte expansão da economia interna. O movimento contribuiu para que o volume de crédito no País atingisse o recorde de 37% do Produto Interno Bruto (PIB) em julho deste ano, fato que contribuiu para o Banco Central (BC) manter o ciclo de aperto monetário. A alta da taxa básica de juros (Selic), que está em 13,75% ao ano, vinha encarecendo o crédito ao consumidor desde abril, quando a taxa estava em 12,25%. "Isso ajudou a amainar aquele ritmo frenético de crescimento de 2006 e 2007. O mercado continuará a crescer, mas de uma forma mais sustentável e saudável", destaca o presidente da Partner Consultoria, Álvaro Musa. Hoje, com o agravamento da crise internacional, o custo dos empréstimos deve ficar mais salgado. Com o fechamento do mercado de capital externo e doméstico, as empresas vão recorrer mais ao sistema financeiro nacional para se financiar. Isso significa aumento de demanda e, conseqüentemente, de preços. No primeiro semestre, os empréstimos para grandes companhias cresceram 30% em comparação com 2007 por causa das dificuldades de fazer captações no exterior. "Apesar das restrições, o cliente pessoa física tende a sofrer menos que empresas neste momento de maior turbulência no mercado internacional", diz Barbedo. Em condições normais, emprestar dinheiro para o cliente pessoa física e pequenas e médias empresas é muito mais rentável para as instituições financeiras, já que os juros são maiores. Apesar do custo, os consumidores aceitam as condições, desde que as parcelas se enquadrem no orçamento familiar. "As grandes companhias exigem juros bem menores de financiamento", avalia Oliveira. Crédito imobiliário Os juros do crédito imobiliário no Brasil devem subir por influência da crise global, admitem representantes do setor. Mas a turbulência não deve comprometer as operações, já que as principais fontes do recurso são internas: o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a poupança. Os bancos confirmam. "O aumento dos juros é algo que pode ocorrer com a crise", diz Luís Antonio França, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Além disso, a fonte pode secar rápido. Segundo previsões entidade, os recursos da poupança devem se esgotar em dois anos. "Temos uma fonte finita, mas ela vai suprir as necessidades do mercado por enquanto", afirma França. O assunto já foi motivo de discussão do setor com o governo federal. Para João Crestana, presidente do Sindicato das Empresas de Compra e Venda de Imóveis (Secovi), o aumento dos juros é esperado, mas deve ser evitado. "Temos argumentado frente aos bancos que o aumento é descabido, dado o fato que o custo da captação da poupança continua de 6% e, do FGTS, de 3% mais TR." Para analistas, a expectativa de variação é pequena. "Não deve ser nada exagerado", diz Andrew Frank Storser, diretor de economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). Mas faltando dinheiro no mercado, vale a lei da oferta e da procura: "Na escassez, o preço sobe."

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