postado em 23/09/2008 14:16
Os números da economia brasileira deverão passar por ajuste até o fim deste ano e no decorrer de 2009 por conta dos desdobramentos da crise financeira nos Estados Unidos.
Segundo pesquisa da Febraban com instituições financeiras divulgada nesta terça-feira (23/09), a turbulência da economia internacional deverá ter efeitos como a redução do ritmo de crescimento do PIB brasileiro em 2009 e, por conseqüência, diminuição das expectativas quanto ao aperto monetário do Banco Central e dos investimentos no país em 2009 e das operações de crédito já a partir deste ano.
"Entende-se que a crise vai levar à desaceleração da economia global e ao enxugamento de liquidez. Isso vai ter impacto na economia brasileira, pela redução do ritmo de crescimento", afirmou Rubens Sardenberg, novo economista-chefe da Febraban.
Em relação à percepção do governo de que a crise dos EUA será "imperceptível", o economista-chefe da Febraban ponderou que, de fato, o sistema financeiro brasileiro é completamente diferente do norte-americano. "O sistema financeiro do Brasil é menos alavancado, altamente regulado e tem operações distintas. Por essa ótica, fala-se em risco baixo [de contaminação da crise]", afirmou.
A pesquisa divulgada hoje indicou pela primeira vez no ano em que houve redução das expectativas em relação à carteira de crédito total. Conforme a Febraban, tais operações devem fechar 2008 com crescimento de 23,94% (ante alta de 24,94% estimada na pesquisa de julho). Para 2009, a expansão prevista é de 19,33%, ante estimativa de alta de 21,13%.
"Sobre crédito, o cenário é de mais cautela sobre o crescimento das operações. De um lado, há expectativa de redução do crescimento da economia e menor demanda e os bancos estão ajustando [a oferta de crédito]. Mas a taxa de expansão ainda é muito alta e ficará acima de 20% neste ano", ponderou Sardenberg.
Para o PIB, as instituições apontam crescimento de 5,15% em 2008 (ante 4,79% na pesquisa de julho) e 3,75% em 2009 (ante previsão anterior de 3,9%). "O BC tem elevado os juros e há ajustes por este movimento. Adicionalmente, deve ter recuo do crescimento da economia pelo agravamento da crise", disse Sardenberg.
As instituições financeiras consultadas na semana passada, após a divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), apontam taxa básica de juros (Selic) em 13,75% em 2009, ante expectativa de 14% verificada no levantamento anterior. Para este ano, no entanto, a expectativa é de 14,75% (estável em relação à apuração anterior), considerando dois aumentos de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões.
"A redução de 14% para 13,75% da taxa de juros em 2009 tem a ver com expectativa de desaceleração da atividade econômica e deve favorecer o trabalho do Banco Central", disse Sardenberg.
Segundo o economista, ainda sob efeitos da crise nos EUA, a taxa de investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) deve fechar 2009 com expansão de 9,79%, ante 10,45% estimada na pesquisa anterior. Neste ano, a taxa prevista de crescimento é de 13,4% (frente 12,81% na consulta anterior).
"O cenário é de maior restrição e de crescimento menor, que leva as instituições segurarem investimentos. O cenário externo está mais complicado, com maior redução da oferta, aperto de custos e redução do ritmo de expansão do investimento."
Câmbio
Quanto ao câmbio, os bancos elevaram a estimativa da cotação do dólar no final deste ano, para R$ 1,74 (no levantamento anterior era de R$ 1,63) e para o encerramento de 2009, para R$ 1,82 (ante R$ 1,73).
"A valorização do real parou. O cenário, de maior liquidez e commodity em alta, mudou", avaliou Sardenberg.
Por conseqüência, a previsão de expansão da balança comercial caiu: de 23,43% na pesquisa de julho para 22,9% neste ano e de 15,48% para 12,88% em 2009.