Economia

FGV: mesmo com confiança em alta, consumidor está cauteloso nas compras

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postado em 23/09/2008 15:32
Apesar de a confiança ter subido em setembro, o consumidor mostra-se mais cauteloso em relação a ir às compras nos próximos meses, constatou a Sondagem de Expectativas do Consumidor, divulgada nesta terça-feira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Apenas 13,5% dos entrevistados disseram ter expectativa de comprar mais bens duráveis daqui para frente. Outros 34% revelaram que pretendem comprar menos. A expectativa de compras de bens duráveis caiu 10,3% em relação a setembro de 2007, e teve redução de 2,5% frente a agosto. Para o coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas da FGV, Aloisio Campelo, a incerteza sobre os rumos da economia, a alta da taxa de juros e o endividamento recente do brasileiro podem ter influenciado essa perspectiva analisada pela pesquisa. "O consumidor ainda é cauteloso quando pensa em comprar novos bens, seja porque as taxas de juros aumentaram, seja porque ele ainda vê um pouco de incerteza ou já contraiu dívidas no passado, mas o consumidor ainda não retornou ao ímpeto comprador que se observava no final do ano passado até no primeiro semestre desse ano", explicou. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) teve alta de 4,2% em setembro, ao passar de 108,2 para 112,7 pontos. O índice havia crescido 6,2% em agosto. Em relação a setembro de 2007, o índice volta a apresentar alta - de 3,4% - após três meses de resultados negativos nesta base de comparação. Campelo disse que o arrefecimento da inflação, aliado ao bom momento do mercado de trabalho, foi determinante para que o índice apresentasse essa elevação. Mesmo assim, lembrou, a confiança do consumidor ainda está em patamar abaixo do que foi verificado até o fim do primeiro trimestre deste ano. "O consumidor tinha se tornado mais pessimista diante da alta da inflação, do aumento da taxa de juros e da turbulência no cenário externo. Mas em agosto e setembro, ele recuperou essa confiança. Aparentemente, há menos nuvens escuras no céu. O consumidor já vê a possibilidade de a economia continuar trilhando numa rota parecida com a que vinha seguindo até meados do primeiro semestre", afirmou Campelo. A avaliação do mercado de trabalho é a melhor da história da pesquisa. Questionados se está difícil encontrar emprego, 65,2% responderam que sim. Outros 7,4% disseram que está fácil conseguir trabalho. O índice que mede a satisfação com o mercado atual subiu 126,9% em relação a setembro de 2007, e 28,7% frente a agosto. Quanto à perspectiva futura do mercado de trabalho, 26,7% dos consultados disseram acreditar que será mais fácil arrumar emprego, e outros 16,6% consideram que conseguir trabalho será mais complicado nos próximos meses. "Há uma mudança de avaliação do mercado de trabalho. A oferta de emprego continua aumentando, a despeito da mexida na política monetária. O consumidor faz uma avaliação muito boa disso, e tem boas perspectivas para os próximos meses", observou Campelo. Alimentos A confiança do consumidor melhorou principalmente na população com renda menor. Segundo Campelo, isso aconteceu devido à desaceleração dos preços dos alimentos, que vinham puxando a inflação anteriormente. "Isso (alta dos alimentos) impactou não só as expectativas, como a renda disponível para outros gastos desse consumidor. Como houve desaceleração dos alimentos, nota-se melhora na confiança mais forte nessa classe", afirmou. A pesquisa foi realizada entre 1° e 19 de setembro. Aloisio Campelo ressaltou que boa parte dela foi feita antes de a crise no sistema bancário americano se intensificar. Por isso, ainda não se tem certeza se o recente cenário realmente afetou a expectativa do brasileiro. Mesmo assim, há indícios que as questões externas não vêm tendo tanto peso assim. "Há um componente de incerteza, que não tende a provocar um desabamento das expectativas. Parece que o consumidor vem sendo afetado por questões internas mesmo", completou.

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