Economia

Bovespa fecha em queda de 3,78%, ainda na incerteza sobre pacote nos EUA

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postado em 23/09/2008 17:29
A aparente resistência do Congresso americano em aprovar o pacote anti-crise da Casa Branca mexeu com "os nervos" do mercado financeiro nesta terça-feira. Acompanhando a derrocada das Bolsas internacionais, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) voltou a despencar enquanto o câmbio cravou R$ 1,83. O "termômetro" da Bolsa, o Ibovespa, cedeu 3,78% no fechamento e retraiu para os 49.593 pontos. O giro financeiro foi de R$ 5,34 bilhões. As ações líderes da Bolsa foram pesadamente castigadas, junto com as ações do setor siderúrgico. A ação preferencial da Petrobras retrocedeu 4,72%, enquanto a a ação da Vale do Rio Doce caiu 5,44%. No rol das siderúrgicas, a ação da Usiminas sofreu queda de 5,86% e da CSN, de 6,94%. No topo das perdas, a ação da JBS (frigorífico) amargou baixa de 8,17%. O dólar comercial foi cotado a R$ 1,831, em alta de 2,17%. A taxa de risco-país marca 283 pontos, número estável sobre a pontuação anterior. As bolsas européias concluíram os negócios em baixa, a exemplo de Londres (declínio de 1,91%) e Frankfurt (baixa de 0,64%). Referência global para o mercado de ações, a Bolsa de Nova York oscilou bastante durante o pregão, mas não resistiu ao pessimismo dos investidores sobre a crise, fechando em baixa de 1,47%. Prazo curto e dúvidas O mercado permanece em suspense, ainda com incertezas sobre a eficácia do pacote de ajuda financeira para deter os piores desdobramentos da crise dos créditos "subprime". A Casa Branca quer constituir um fundo, orçado em US$ 700 bilhões , para absorver os créditos problemáticos nas carteiras dos bancos e que geram a crise de confiança no sistema bancário e a paralisia no circuito de crédito. Há dúvidas, no entanto, sobre o montante dos recursos disponíveis face à dimensão dos créditos problemáticos, sem esquecer dos custos para as contas públicas. O calendário legislativo também preocupa investidores e analistas: o Congresso tem pouco tempo para avaliar o pacote da Casa Branca. "O pacote não parece ser suficiente para acalmar os mercados. Mas acho que a desconfiança não é tanto de ordem quantitativa (os recursos são volumosos), mas de ordem qualitativa. A questão é que o problema não está mais restrito aos EUA e já tomou proporções mundiais. Para ficar tranquilo, o mercado esperava que outros países, as outras economias centrais, também concordassem com o plano e fizessem algum compromisso para manter a estabilidade do sistema", avalia Alcides Leite, economista da Trevisan Escola de Negócios. Recessão Hoje, Henry Paulson, secretário do Tesouro dos EUA, e Ben Bernanke, titular do banco central americano, fizeram um apelo ao Congresso para que os legisladores aprovem com rapidez as medidas. "Os mercados financeiros estão em condição frágil e acredito que, na ausência de um plano, eles fiquem em situação pior", disse Bernanke. "Acredito que se os mercados de crédito não estiverem funcionando, empregos serão perdidos, nossa taxa de crédito vai aumentar, mais despejos vão ocorrer, o Produto Interno Bruto (PIB) vai contrair e a economia não vai conseguir se recuperar de um modo normal, saudável", acrescentou ele. E o presidente George W. Bush declarou que seu governo "está trabalhando para aprovar esta estratégia [o pacote]´ e que é preciso ´agir com a urgência que a crise precisa". "Precisamos trabalhar em termos de metas e nos mantermos firmes em relação às nossas propostas", disse ele, em discurso na 63¦ Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Cena doméstica No front doméstico, o Banco Central revelou que sua previsão para o déficit em transações correntes de US$ 28,8 bilhões para este ano, uma piora em relação à estimativa anterior, de US$ 21 bilhões. Trata-se da pior cifra em dez anos. Somente em agosto, as transações correntes do Brasil com o exterior, importante indicador que mede a vulnerabilidade externa do país, tiveram déficit de US$ 1,09 bilhão, resultado melhor que o registrado no mês de julho (US$ 2,111 bilhões). No ano, no entanto, o déficit atinge US$ 20,6 bilhões - no mesmo período de 2007, o resultado era um superávit de US$ 3,045 bilhões. "Em agosto, a deterioração do cenário financeiro internacional não chegou a contaminar de forma significativa as contas externas brasileiras", avalia o Iedi (Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial), em boletim. "Em setembro, o aprofundamento da crise, após a concordata do Lehman Brothers e o resgate da AIG, certamente terá efeitos negativos (e mais abrangentes) sobre o ingresso de recursos externos", acrescenta a área de análise econômica do instituto.

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