postado em 25/09/2008 08:28
Um dos poucos setores da economia onde o sexo predominante ainda é o masculino, a construção civil começa a mostrar-se de portas abertas às mulheres. Somente nos últimos três anos, segundo dados do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Brasília (STICMB), mais do que dobrou o número de operárias na ativa no Distrito Federal. O crescimento, dizem especialistas, é fruto do bom momento vivido pelo terceiro setor que mais contrata proporcionalmente no DF, com crescimento de 8,7% em agosto, perdendo apenas para o comércio (19,%) e indústria (12,5%).
O acelerado ritmo de expansão de Águas Claras foi um dos fatores que abriram as portas às mulheres na construção civil. O maior número de obras, dizem especialistas, possibilitou o ingresso delas em áreas que demandassem menor força. ;Hoje, uma parte considerável dos profissionais empregados em serviços de acabamento é composta por mulheres;, diz Eraldo Gouveia da Silva, dono de uma empresa de acabamento que, entre as funções de rejunte, emprega sete mulheres dum total de nove funcionários.
O menor esforço empregado numa obra, explica, decorre da modernização dos equipamentos, da terceirização das demandas de limpeza, rejunte e segurança. ;Tudo isso fez com que o exagero da força bruta numa obra fosse reduzido a zero;, explica o presidente da Confederação
Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil, Waldemar Pires de Oliveira. ;Antes disso, só se via em obra mulheres em cargos de ascensorista, copeira e técnica em segurança;, detalha o engenheiro Glauco Fernandes de Medeiros.
As colegas de rejunte Rita Márcia, 26 anos, Laurenice de Souza, 33, e Denise Tavares, 29, fazem parte dessa nova geração de operárias. As três contam que largaram serviços de empregada doméstica, cuja média de rendimento é de um salário mínimo, para ingressar na construção civil, com carteira assinada e benefícios. Hoje, esbanjam salários de R$ 700 dependendo da produtividade.
;É uma nova realidade aqui. Não existe preconceito ou humilhação que tinha quando trabalhava em casa de família;, diz a moradora de Samambaia Rita Márcia. ;Aqui temos horário para sair, para almoçar. É tudo mais certinho do que antes;, conta Laurenice, que é moradora do Recanto das Emas. ;Ganho muito mais aqui do que nos meus 10 anos em que trabalhei como empregada. Não penso em sair da obra tão cedo;, conclui a paraibana Denise Tavares, que atualmente é moradora de Samambaia.
Sem experiência
Nem uma das três tinha experiência na construção quando resolveu procurar emprego na obra. Ainda assim, foram contratadas. A admissão só foi possível, explica Edgar de Paula Viana, presidente do STICMB, pelo ótimo momento por que passa o setor no DF. Esse movimento de contratação, no entanto, não foi suficiente para reverter o perfil do trabalhador na construção civil. Dos 14 mil profissionais do setor no DF, apenas 300 são mulheres.
Os salários também influem. No Brasil, o rendimento inicial do homem na construção é de R$ 887,09, enquanto o da mulher é de R$ 743,10. Somente no DF e no Amapá esse quadro se inverte. Nos últimos quatro anos, de 2004 a 2007, o salário médio pago às mulheres em Brasília foi de R$ 1,266 mil. Diferença de R$ 379 sobre os R$ 887 pagos aos homens em igual período.