Economia

Bush admite que EUA estão imersos em uma "grave crise financeira"

;

postado em 25/09/2008 08:46
O presidente americano, George W. Bush, assumiu que os Estados Unidos estão "imersos em uma grave crise financeira". Em discurso televisionado da Casa Branca nesta quarta-feira (24/09), o presidente pediu a aprovação urgente do pacote de US$ 700 bilhões para solucionar a crise financeira no país. Bush afirmou que foi obrigado a intervir para evitar o pânico financeiro e a recessão. Ele disse que, se a ajuda não for aprovada, poupanças serão perdidas, os despejos aumentarão, empregos serão perdidos, empresas vão fechar e o país irá mergulhar em "uma longa e dolorosa recessão.". "Eu tenho profunda crença nas trocas comerciais livres, por isso me oponho à qualquer intervenção do governo", disse. Mas essas "não são circunstâncias normais. Os mercados não estão funcionando corretamente. Há uma disseminação da perda da confiança.". "Sem ação imediata do Congresso, os EUA podem afundar em um pânico profundo", declarou o presidente na noite desta quarta-feira (24/09). "Esse esforço de resgate não se destina a preservar alguma empresa ou setor em particular. Ele pretende preservar a economia como um todo", afirmou o presidente. Tentando explicar onde começou toda a crise, o presidente afirmou que o colapso das gigantes financeiras teve origem a partir problema no crédito "subprime" (empréstimos imobiliários de segunda linha) no setor hipotecário, que teve enorme desenvolvimento na última década. Pacote Pouco antes do pronunciamento de Bush, a Casa Branca informou que convidou os candidatos à Presidência dos EUA, Barack Obama e John McCain - que são senadores -, além de líderes do Congresso, para um encontro nesta quinta-feira (25/09), a fim de tentar chegar a um acordo sobre o pacote. McCain e Obama divulgaram um comunicado conjunto, no qual pediram que democratas e republicanos no Congresso trabalhem em conjunto. "Esse é o tempo de superarmos a política pelo bem do país (...) Não podemos nos arriscar a uma catástrofe econômica", diz o documento. Mais cedo, nesta quarta-feira, Bush afirmou saber que o plano - que ainda circula no Congresso à espera da aprovação - provocaria debates acalorados no Congresso americano. "Nosso processo legislativo está cheio de toma lá da cá", disse Bush em uma reunião para promoção de acordos de livre comércio. "Mas quando tudo tiver sido dito e feito, teremos um plano robusto", acrescentou. Na terça-feira (23), Bush disse, em discurso na 63ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, que o governo dos EUA tem tomado "atitudes ousadas para evitar efeitos devastadores" na economia do país. "Na semana passada eu anunciei um plano decisivo para manter as raízes da estabilidade (...) Posso garantir que meu governo está trabalhando para aprovar esta estratégia. Precisamos agir com a urgência que a crise precisa", disse. "Precisamos trabalhar em termos de metas e nos mantermos firmes em relação às nossas propostas.". O plano de resgate prevê a liberação de até US$ 700 bilhões de dinheiro público para recomprar os ativos podres acumulados pelos bancos com a crise de créditos "subprime" (empréstimos imobiliários de segunda linha). Crise Nesta quarta-feira o Fundo Monetário Internacional divulgou um panorama bastante desanimador sobre os prejuízos causados pela crise na economia americana. O diretor-geral do fundo, Dominique Strauss-Kahn, disse que o custo da crise financeira global pode chegar a US$ 1,3 trilhão, contra uma estimativa anterior de US$ 1 trilhão a US$ 1,1 trilhão, segundo a porta-voz do Fundo, Conny Lotze. O secretário do Tesouro, Henry Paulson, e o presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano), Bem Bernanke, compareceram ao Congresso nos últimos dias para enfatizar a necessidade de ter a aprovação rápida do plano. Bernanke disse nesta quarta que um agravamento da crise financeira pode ser um forte obstáculo ao crescimento dos negócios nos EUA, o que pode acabar pesando sobre a economia. Nem consumidores nem empresas conseguiram financiamentos, o que provocaria uma paralisia na economia americana, disse. "A intensificação da pressão financeira nas últimas semanas, que tornarão as instituições de crédito mais cautelosas em liberar financiamentos a domicílios e empresas, pode se provar um peso significativo para o crescimento", afirmou. "O risco de baixa para o cenário do crescimento continua, assim, a ser uma preocupação expressiva", acrescentou. Bernanke disse ainda que a economia americana no segundo semestre deve se manter em ritmo fraco; o consumo deve desacelerar com um aumento do desemprego, um encolhimento dos salários e o fim do programa de estímulo aprovado pelo governo em fevereiro deste ano. A desaceleração das economias dos outros países também não está ajudando, disse. Recessão Na terça, ao lado de Paulson, Bernanke disse ao comitê bancário que a economia americana corre o risco de entrar em recessão, com o aumento do desemprego e do número de despejos, se o Congresso não aprovar o pacote. "Os mercados financeiros estão em condição frágil e acredito que, na ausência de um plano, eles fiquem em situação pior", disse Bernanke. "Acredito que se os mercados de crédito não estiverem funcionando, empregos serão perdidos, nossa taxa de crédito vai aumentar, mais despejos vão ocorrer, o PIB [Produto Interno Bruto] vai contrair e a economia não vai conseguir se recuperar de um modo normal.". Uma economia com dois trimestres consecutivos de PIB negativo está em recessão, segundo analistas. A economia dos EUA cresceu 3,3% no segundo trimestre, depois de uma revisão do dado inicial, que mostrava uma expansão de 1,9%. para os próximos trimestres, no entanto, as expectativas são de uma atividade econômica ainda mais lenta. Origem O atual momento da crise financeira americana começou na semana passada, quando o banco de investimentos Lehman Brothers pediu concordata, depois de semanas tentando encontrar um modo de captar recursos para honrar seus compromissos. Outras instituições privadas se recusaram a conceder crédito ao Lehman, e o governo também não cedeu. Com isso, o banco quebrou. Além disso, o banco de investimentos Merrill Lynch foi vendido ao Bank of America e a seguradora AIG, perto de um fim como o Lehman, conseguiu do Fed um empréstimo de US$ 85 bilhões. No início do mês já havia sinais de agravamento da situação: as duas gigantes hipotecárias americanas Fannie Mae e Freddie Mac, também sem caixa, levaram o Tesouro a preparar uma ajuda de US$ 200 bilhões, para manterem as portas abertas. As duas, no entanto, passaram a ser controladas pelo governo, através da FHFA (Federal Housing Finance Agency), a agência financeira federal para o setor imobiliário residencial.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação