postado em 25/09/2008 15:27
As negociações para fechar um acordo sobre o pacote de US$ 700 bilhões destinado a ajudar o setor financeiro alcançou "progresso significativo", informou nesta quinta-feira a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino. "Acredito que fizemos progresso significativo, temos um esboço sobre o qual poderemos concordar", disse Perino. "E esperamos fazer isso rapidamente.".
Ela não ofereceu detalhes sobre o andamento das negociações, ou eventuais concessões feitas para fechar o acordo, no entanto.
"Demos alguns passos adiante, e eles [no Congresso] deram alguns passos em nossa direção", afirmou a porta-voz. "Assim, estamos nos aproximando de um consenso e vamos tentar levar isso em direção a uma conclusão hoje.".
O presidente dos EUA, George W. Bush, pretende se encontrar hoje às 17h (em Brasília) com líderes democratas e republicanos na Casa dos Representantes (Câmara dos Deputados) e no Senado, além dos candidatos à Presidência dos EUA, Barack Obama (democrata), e John McCain (republicano).
Perino enfatizou a urgência em se aprovar o pacote, destacando a forte pressão sobre os mercados de crédito que a crise pode exercer.
A presidente da Casa, a democrata Nancy Pelosi, disse hoje que a Casa Branca aceitou os quatro princípios básicos que os democratas do Congresso querem acrescentar ao plano de resgate. "Desde quinta-feira passada, está claro para a administração (Bush) que (...) os quatro princípios dos quais falamos são: a indulgência [com os proprietários de imóveis insolventes], a transparência, a igualdade e a remuneração dos dirigentes de empresas financeiras", enumerou Pelosi.
"O presidente as aceitou ontem à noite, e é portanto um progresso", disse. O presidente do Comitê de Bancos do Senado, o democrata Christopher Dodd, afirmou por sua vez que foi alcançado um acordo sobre os fundamentos do pacote.
TV
Ontem, em discurso na TV, Bush disse que os Estados Unidos estão "imersos em uma grave crise financeira" e pediu a aprovação urgente do pacote. O presidente afirmou que foi obrigado a intervir para evitar o pânico financeiro e a recessão. WSe a ajuda não for aprovada, poupanças serão perdidas, os despejos aumentarão, empregos serão perdidos, empresas vão fechar e o país irá mergulhar em "uma longa e dolorosa recessão", disse.
"Eu tenho profunda crença nas trocas comerciais livres, por isso me oponho à qualquer intervenção do governo", disse. Mas essas "não são circunstâncias normais. Os mercados não estão funcionando corretamente. Há uma disseminação da perda da confiança".
Nesta terça-feira (23/09), Bush disse, em discurso na 63ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que o governo dos EUA tem tomado "atitudes ousadas para evitar efeitos devastadores" na economia do país.
"Na semana passada eu anunciei um plano decisivo para manter as raízes da estabilidade (...) Posso garantir que meu governo está trabalhando para aprovar esta estratégia. Precisamos agir com a urgência que a crise precisa", disse. "Precisamos trabalhar em termos de metas e nos mantermos firmes em relação às nossas propostas.".
Tesouro e Fed
O secretário do Tesouro, Henry Paulson, e o presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano), Ben Bernanke, compareceram ao Congresso nos dois últimos dias para enfatizar a necessidade de ter a aprovação rápida do plano.
Bernanke disse nesta quarta que um agravamento da crise financeira pode ser um forte obstáculo ao crescimento dos negócios nos EUA, o que pode acabar pesando sobre a economia.
Nem consumidores nem empresas conseguiram financiamentos, o que provocaria uma paralisia na economia americana, disse. "A intensificação da pressão financeira nas últimas semanas, que tornarão as instituições de crédito mais cautelosas em liberar financiamentos a domicílios e empresas, pode se provar um peso significativo para o crescimento", afirmou. "O risco de baixa para o cenário do crescimento continua, assim, a ser uma preocupação expressiva.".
Bernanke disse ainda que a economia americana no segundo semestre deve se manter em ritmo fraco; o consumo deve desacelerar com um aumento do desemprego, um encolhimento dos salários e o fim do programa de estímulo aprovado pelo governo em fevereiro deste ano. A desaceleração das economias dos outros países também não está ajudando, disse.
Na terça, Bernanke disse ao comitê bancário que a economia americana corre o risco de entrar em recessão, com o aumento do desemprego e do número de despejos, se o Congresso não aprovar o pacote.
"Os mercados financeiros estão em condição frágil e acredito que, na ausência de um plano, eles fiquem em situação pior", disse Bernanke. "Acredito que se os mercados de crédito não estiverem funcionando, empregos serão perdidos, nossa taxa de crédito vai aumentar, mais despejos vão ocorrer, o PIB [Produto Interno Bruto] vai contrair e a economia não vai conseguir se recuperar de um modo normal.".
Uma economia com dois trimestres consecutivos de PIB negativo está em recessão, segundo analistas. A economia dos EUA cresceu 3,3% no segundo trimestre, depois de uma revisão do dado inicial, que mostrava uma expansão de 1,9%. para os próximos trimestres, no entanto, as expectativas são de uma atividade econômica ainda mais lenta.
Origem
O atual momento da crise financeira americana tem em sua raiz a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, a venda do Merrill Lynch ao Bank of America e os problemas da seguradora AIG, que precisou de um empréstimo de US$ 85 bilhões do Fed - todos eventos ocorridos na semana passada.
No início do mês já havia sinais de agravamento da situação: as duas gigantes hipotecárias americanas Fannie Mae e Freddie Mac, também sem caixa, levaram o Tesouro a preparar uma ajuda de US$ 200 bilhões, para manterem as portas abertas. As duas, no entanto, passaram a ser controladas pelo governo, através da Federal Housing Finance Agency (FHFA), a agência financeira federal para o setor imobiliário residencial.