postado em 26/09/2008 08:51
A crise financeira que teima em assombrar os mercados internacionais ainda não bateu no bolso do brasileiro. Os comerciantes seguem otimistas quanto aos resultados previstos para o ano e à incógnita de quais serão os efeitos empurrados para 2009. A expectativa de aprovação do pacote para conter a crise americana anima os empresários, que esperam amargar o mínimo possível de prejuízos com a reviravolta na economia global.
Para o chefe do departamento econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Tadeu de Freitas Gomes, a instabilidade nos EUA não deverá afetar o varejo brasileiro até dezembro. ;Este ano está praticamente todo contratado e devemos fechar as vendas com um crescimento próximo ao de 2007, de 9,7%;, diz. Em 2009, no entanto, o cenário traçado pelo economista é bem diferente. ;Com a crise, o crédito deve ficar mais caro e os prazos devem ser reduzidos, o que vai afetar avenda de bens de consumo duráveis;, explica.
Mais exigências
Os efeitos da pisada no freio na economia dos EUA ainda não foram sentidos pela população em geral, afirma Líllian Salgado, advogada da Associação Nacional dos Consumidores de Crédito (Andec). Apesar disso, ela não descarta possíveis complicações sobre o crédito. ;No caso do consumidor, se a crise piorar, os bancos e o varejo podem ficar mais exigentes na hora de emprestar dinheiro ou vender a prazo, pedindo, por exemplo, garantias mais firmes. A pessoa física pode também ser obrigada a comprovar efetivamente sua renda, um histórico financeiro mais detalhado, coisas desse tipo;, avalia.
Mesmo diante de tantas incertezas, o movimento de consumo mantém o ritmo. ;É melhor comprar agora porque a gente não sabe o dia de amanhã;, afirma a servidora pública Neuza Lônia, 53 anos. Já para o ator André Sommer, 29, a crise deve chegar mais suave ao Brasil, o que não lhe traz tanta preocupação. ;A economia brasileira está muito aquecida, não acho que vamos sentir tanto desta vez;, resume.
O país, no entanto, não está blindado. Efeitos do estresse financeiro pipocam aqui e ali. Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), explica que a crise já provocou reflexos, por exemplo, nas compras dos brasileiros. Segundo ele, a turbulência internacional embutiu precauções extras no receituário de quem oferta dinheiro a prazo. ;Os bancos vão continuar emprestando, mas o consumidor já está sentindo pelo menos duas coisas: as instituições financeiras estão mais criteriosas, mais seletivas, mais atentas. A outra coisa é que o empréstimo está mais caro por causa da Selic;, reforça.
No setor de consórcios, ainda não há sinais de desaceleração. Pelo contrário. ;Se afetar o emprego e a renda aí sim o setor de consórcio sentirá. Mas por enquanto não estamos vendo os efeitos da crise;, afirma Rodolfo Garcia Montosa, presidente da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac). De acordo com a entidade, 3,5 milhões de brasileiros optam por esse tipo de investimento e poupam R$ 60 bilhões.