postado em 28/09/2008 08:21
Dividida em dois extremos, Brasília assiste ao aprofundamento da desigualdade social que a coloca no pior patamar de concentração de renda do país. Na contramão, o Distrito Federal destoa da trajetória nacional e fica cada vez mais dividido: de um lado os trabalhadores abastados, que elevam a renda média da capital federal para a posição mais alta do Brasil. No outro extremo, a parcela mais pobre fica cada vez mais excluída.
Um estudo elaborado para o Correio pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), cruzando dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) com os da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), mostra que 10% da população da capital federal concentra quase metade da renda que circula na cidade. Mas os 50% mais pobres ficam com apenas 11% dos rendimentos pagos. A disparidade é maior que a registrada na média do país, onde os 10% mais ricos recebem cerca de 40% da renda total e a metade mais pobre da população absorvem 15%.
Nos últimos 16 anos, o país diminuiu sua concentração de renda. O Índice de Gini ; indicador utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estudos Socioeconômicos (IBGE) para medir o nível de desigualdade ; exclusivo do rendimento oriundo do trabalho passou de 0,583 para 0,557 entre 1992 e 2007. Quanto mais próximo o número for de 1, maior é a concentração de rendimentos no país. Mas os efeitos do crescimento econômico, do aumento de renda dos mais pobres e da queda do desemprego não mudaram a face do DF como do restante do Brasil. O mesmo Índice de Gini está em trajetória de alta na capital. Em 1992 era de 0,606. No ano passado chegou a 0,618, ficando cada vez mais próximo da linha que caracteriza a extrema desigualdade. ;Nos últimos anos houve um aumento muito grande no número de servidores públicos e eles tiveram reajustes em seus salários, o que puxa a renda para cima. Por outro lado, os empregos gerados no setor privado foram de menor escolaridade, puxando os mais pobres para baixo;, afirma o autor do estudo, Antônio Ibarra, responsável pela elaboração da PED.
Pelos dados do levantamento, metade dos brasilienses ganha até R$ 714 por mês, menos de dois salários mínimos. No extremo, há 10% da população que não recebe sequer um salário mínimo por mês, contrariando a Constituição Federal que fixa o piso de remuneração dos trabalhadores. Eles são pagos com apenas 0,7% dos recursos em circulação no DF, de acordo com o dado de 2007, divulgado neste mês. Em 1992 respondiam por 0,9% do total. Por outro lado, os 30% que detêm os melhores salários, acima de R$ 2.023 por mês, abocanham 76,3% da renda. E os 10% mais ricos ; salários superiores a R$ 6.312 ; ficam com 45,4% do rendimento pago para todos os trabalhadores da cidade.