postado em 01/10/2008 16:12
O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, criticou nesta quarta-feira (1°/10) a decisão do País de leiloar mais usinas térmicas do que hidrelétricas. "Se um marciano chegasse aqui agora acho que ele teria sérias dificuldades para entender o que leva este País de proporções continentais a desprezar o seu potencial hídrico e queimar óleo ou gás em usinas térmicas", comentou, durante o 5º Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico (Enase), que acontece hoje e amanhã no Rio de Janeiro
Além do desgaste ambiental e do custo superior, Kelman destacou que ao ser priorizada esta fonte de energia, não foi considerado o problema logístico que haverá para o abastecimento destas usinas. "Como exercício, calculamos que se todas as unidades leiloadas entrassem em operação ao mesmo tempo, seriam necessários 1,5 mil caminhões trafegando pelo País diariamente, cruzando distâncias em média de 12 horas. Será que o cálculo do desgaste das estradas e do gasto do combustível para o transporte destes caminhões foi computado no custo final da energia gerada por estas usinas?", indagou.
Escassez de crédito
Kelman também alertou para a escassez de crédito que o setor elétrico - como todos, destacou - vai sofrer no curto prazo por conta da recessão econômica internacional. "Esta escassez é um consenso. Portanto, temos que criar um ambiente atrativo para os investidores que quiserem buscar novas oportunidades. Só atraindo estes investidores é que conseguiremos manter a competitividade do setor e assim garantir tarifas mais baixas", disse
Em sua opinião, este estado de "alerta" em relação à atratividade dos investimentos - "e aí se inclui um ambiente regulatório preciso, eficiente e transparente" - pode fazer com que o Brasil reverta esta situação "caótica" como uma janela de oportunidades. "O Brasil é um país sólido. Não há empresas de fachada e os investimentos, pelo menos no setor elétrico, se mostram rentáveis no longo prazo. Isso significa que temos a oferecer aos investidores internacionais uma excelente oportunidade", avaliou.
Racionamento
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, destacou hoje a inversão do quadro brasileiro, em que o risco de um racionamento deixou de ser o pedestal das discussões. "Este assunto desceu do pódio. Não está mais em voga e o Brasil agora começa a entrar em um outro nível de debates, com relação a preços e qualidade dos combustíveis na matriz energética", comentou após participar da quinta edição do Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico (Enase)
Ele afirmou que os recentes leilões garantiram energia extra para até 2013, antes mesmo de serem realizados os leilões de ajuste para aquele período. Segundo Tolmasquim, para 2009 são 204 MW excedentes, para 2010 são 1,208 mil MW, para 2011, 1,873 mil MW. "O risco está bastante acima do nível considerado satisfatório", comentou
Para Tolmasquim, o leilão de ontem também foi um exemplo de que o Brasil não deve temer a recessão. "Confesso que eu estava receoso. Não sabia qual seria o impacto do susto das bolsas na segunda-feira sobre os investidores neste leilão. Mas saí estupefato", disse comentando o recorde de 5,5 mil MW leiloados, ante uma média de 3 mil nas edições anteriores.
Redução da CCC
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pretende reduzir em cerca de R$ 964 milhões a arrecadação anual da chamada Conta de Consumo de Combustíveis (CCC). A agência termina no próximo dia 10 processo de consulta pública sobre proposta de resolução que fará com que o custo do combustível usado pelas termoelétricas a óleo da região Norte seja calculado com base na média dos preços apurados, na região, pela Agência Nacional do Petróleo (ANP)
Se tudo correr dentro dos planos da Aneel, a medida já entraria em vigor no ano que vem. Em 2008, a arrecadação total da CCC será de cerca de R$ 3 bilhões. A CCC é um encargo cobrado de todos os consumidores de energia elétrica do País. Os recursos são usados para subsidiar a compra do óleo usado nas térmicas que fornecem energia aos chamados Sistemas Isolados, localizados principalmente na Região Norte do País