postado em 01/10/2008 22:22
Foi aprovado na noite desta quarta-feira (1º) pelo Senado norte-americano pacote de ajuda financeira no valor de US$ 700 bilhões, proposto pelo governo George W. Bush. A proposta foi aprovada por 74 votos a 25.
O projeto de lei foi rejeitado na última segunda-feira (29/09) pela Casa dos Representantes (Câmara dos Deputados) dos EUA. Os congressistas republicanos foram responsáveis pela maioria dos votos contra o plano. O placar foi de 228 contrários e 205 a favor do socorro.
Os candidatos à presidência dos Estados Unidos tanto do partido Republicano quanto do Democrata, ambos senadores, pressionaram para que houvesse uma votação no Senado. Foi a primeira vez que um projeto de lei nos EUA passou pela Câmara Alta antes de ir à Câmara Baixa (dos Representantes). Após a rejeição, o texto sofreu modificações e, às três páginas iniciais foram acrescidas outras 450.
A proposta ainda depende de aprovação da Câmara Baixa, que pode votá-la nesta sexta-feira (3/09). Entre as alterações feitas desde segunda-feira, estão a elevação do limite de depósitos garantidos pela Corporação Federal de Seguro de Depósitos (FDIC) - de US$ 100 mil para US$ 250 mil - e a prorrogação de créditos fiscais para empresas e para projetos de energia renovável.
Problemas
Apesar da aprovação do pacote, os problemas devem continuar, mesmo que os deputados sigam o exemplo dos colegas senadores e aprovem o pacote na segunda votação do tema, que pode acontecer ainda quinta-feira ou sexta. "O pacote não pode ser considerado um salvador da pátria. É apenas um caminho mais rápido para um ajuste necessário no sistema financeiro. Pode contribuir para acalmar um pouco o clima, desarmando as expectativas. Mas não significa que o crédito vai voltar a fluir ou que os bancos não vão mais quebrar", afirma o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes.
Ex-diretor do Banco Central (BC), Gomes acredita que o sucesso do pacote vai depender de uma série de detalhes práticos de sua implantação. Ainda não está claro o tamanho do deságio com que os créditos podres serão comprados pelo Tesouro e nem se a operação vai resultar numa real capitalização dos bancos. Só com dinheiro disponível, eles poderão voltar a emprestar para consumidores e empresas. De qualquer maneira, na avaliação do economista, a compra direta dos papéis é uma opção melhor do que o financiamento diário das instituições pelos bancos centrais. "O pacote pode ser o começo de uma recuperação econômica um pouco mais rápida", aposta.
Na visão de outro ex-diretor do BC, o consultor Carlos Eduardo de Freitas, é difícil saber até que ponto o pacote conseguirá restaurar a confiança dos investidores no sistema financeiro. "O governo foi muito lento ao agir. A hora de ter entrado em campo rapidamente era duas semanas atrás, quando os bancos começaram a mostrar sérios sinais de que estavam quebrados. As autoridades perderam totalmente o controle da situação e o pacote pode dar a elas algum tempo até que o comando seja retomado", afirma. O economista acredita que as medidas pelo menos têm o potencial de estancar a sangria no crédito.
Para Freitas, o governo tem poucas alternativas agora a não ser torcer para que o socorro aos bancos dê certo. Se não der, as autoridades acabarão tendo que adotar uma saída radical: nacionalizar os bancos em dificuldades e saneá-los para posterior privatização. Segundo ele, o governo dos EUA já adotou essa medida ao encampar o banco Continental Illinois, em 1984, vendendo-o depois de limpar seu balanço. "Se fez isso uma vez, pode fazer de novo. O que não dá para fazer é deixar o sistema todo ruir. Os efeitos para a economia real são muito danosos. O primeiro seria um colapso total do crédito, seguido de uma brutal recessão mundial", diz.