postado em 02/10/2008 19:53
O mercado brasileiro de capitais e os mercados de todo o mundo vão continuar a ser afetados negativamente pela crise econômica mundial, nos próximos dias e meses, avaliou, em entrevista à Agência Brasil, o gerente-geral do Instituto Nacional de Investidores (INI), Paulo Portilho. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa ) chegou a cair nesta quinta-feira (02/10) próximo de 10%. Às 17h57m, a queda era de 7,34%.
Portilho disse que uma simples ida a uma loja de venda de aparelhos de telefonia celular já mostra que a crise chegou ao Brasil. Antes de o problema financeiro explodir nos Estados Unidos, os celulares eram vendidos no mercado nacional em dez vezes sem juros. ;Agora, são dez vezes, mas com juros de 20% a 25% ao ano;. Isso significa, afirmou Portilho, que existe por trás disso tudo uma crise de falta de dinheiro para emprestar.
;Os bancos precisam ter confiança para emprestar uns para os outros e para nós. E, no mundo inteiro, isso simplesmente acabou e ficou muito caro;, assinalou Portilho. A percepção das pessoas em relação ao pacote de socorro do governo norte-americano para os bancos e financeiras daquele país, avaliou, é que ;talvez o tempo e o tamanho dele não sejam suficientes para recuperar essa credibilidade do sistema bancário, porque as quedas são muito grandes;.
Ele salientou que as pessoas estão com receio de que a questão do crédito não seja recuperada. ;Sem crédito, a economia pára completamente;. No mercado de bolsa de valores, a tendência é de baixa, até que se defina se o pacote será aprovado ou não. Após ter sido rejeitado pela Câmara de Representantes dos Estados Unidos na última segunda-feira (29), o pacote foi aprovado pelo Senado e deve voltar amanhã (3) a ser apreciado pela Câmara.
O gerente-geral do INI assegurou que se os negócios chegarem a ser paralisados nos mercados será uma freada muito brusca nas economias mundiais. ;Por isso é que as bolsas ainda vão continuar assim, bastante oscilantes;. Para que os investidores, principalmente os de menor porte, atuem no mercado de ações, Portilho indicou que não existe outro caminho a não ser investir sempre e regularmente. ;O maior pecado que uma pessoa comete em bolsa é colocar tudo de uma tacada só, em um único dia. É um perigo. Se alguém tivesse feito isso em maio, por exemplo, teria perdido 50% dos seus investimentos;.
Além de investir sempre e de forma regular, a recomendação do especialista é que o investidor reinvista todos os dividendos recebidos no período e só compre ações de empresas que apresentem crescimento. ;Essa é a regrinha que as associações de investidores iguais à nossa, do mundo inteiro, recomendam a seus investidores. Quem fez isso nos últimos cinco, dez ou 15 anos tem, sem dúvida, um grande ;portfólio; hoje. Agora, quem tentou adivinhar a hora de entrar e de sair, o que fazer, eu não posso afirmar;.
Portilho destacou que apesar da redução de valor de algumas empresas, como Petrobras e Vale, o foco do investidor tem de ser o crescimento do lucro das companhias negociadas na bolsa. Explicou que, devido à crise internacional, todas as empresas sofrerão, em algum momento, problema de crédito. No caso da Petrobras, em particular, lembrou que o próprio governo estaria garantindo crédito, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para que a empresa dê seguimento a seus investimentos.
Advertiu que a oscilação das cotações dos papéis na Bovespa acontece ;ao sabor; do mercado. ;O que importa para o investidor é se o lucro da empresa está crescendo;. Os dados relativos ao primeiro semestre indicam bom crescimento de lucro para as empresas brasileiras de maneira geral. ;Isso é que importa para ele (investidor). Porque, mesmo que o mercado passe por um horror agora de falta de liquidez, não tenha dinheiro para comprar, quando ele se recuperar - pode ser no espaço de um até cinco anos - se o investidor se posicionou em empresas que têm um lucro crescente, um dia isso vai se ajustar;.
Outra dica importante do especialista é que quanto mais barata a ação, melhor o retorno em termos de dividendo, desde que a companhia tenha lucro e esse lucro cresça. ;É isso que o investidor tem que procurar;. A redução do valor da Petrobras e da Vale à metade, em decorrência da crise mundial, ;pode ser, talvez, uma grande oportunidade de investimento, desde que o lucro delas tenha perspectiva de crescer;, reafirmou.