postado em 03/10/2008 08:30
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, desfiou ontem um rosário de queixas ao presidente Lula ante à ameaça de uma possível rebelião dentro do governo, caso o Comitê de Política Monetária (Copom) continue aumentando a taxa básica de juros (Selic) na reunião marcada para os dias 28 e 29 deste mês. Meirelles disse ser um erro ;inadmissível; empurrar a discussão sobre juros para o centro da crise internacional e, pior, envolver o nome do BC, cuja credibilidade na condução da política monetária tem sido fundamental para o combate à inflação e para a estabilidade da economia.Segundo interlocutores de Lula, Meirelles deixou claro que, a continuar o tiroteio em cima do Copom, conforme mostrou o Correio na terça e na quarta-feira, mesmo que os diretores do BC entendam haver espaço para se reduzir o ritmo de aumento da Selic ou até para interromper o processo de alta iniciado em abril deste ano, certamente não o farão para reafirmar a independência da política monetária. Na visão do presidente do BC, o momento é crítico demais para a economia mundial e o Brasil terá naturalmente que dar a sua cota de sacrifício. Portanto, não há por que se criar uma crise interna, tendo como pano de fundo os rumos das taxas de juros.
Lula ouviu com atenção os argumentos de Meirelles e prometeu conter qualquer rebelião contra o BC ou tentativas para isolar o banco. Mas o presidente da República também fez questão de deixar claro o seu desejo de ver um afrouxamento na política monetária. Na visão de Lula, num momento de incerteza extrema como o que se vive hoje, com derretimento dos mercados financeiros globais e recessão nos países mais ricos do mundo, tal iniciativa é fundamental para manter vivo o otimismo entre os investidores e os consumidores do país. Ele acredita ainda que a ameaça da inflação já foi domada, com a queda dos preços das commodities, e o grande desafio do governo agora á evitar uma desaceleração mais forte da economia, já que o crédito está escasso e caro e as exportações vão cair.
O presidente sabe que não será possível o país crescer os desejados 5% em 2009, mas quer garantir pelo menos uma taxa de expansão próxima de 4% para o Produto Interno Bruto (PIB). ;Com juros mais altos do que os 13,75% atuais, isso não será possível;, afirmou Lula, segundo assessores do Palácio do Planalto. O presidente foi ainda mais enfático ao dizer que um novo aumento de 0,75 ponto percentual da Selic servirá de combustível para a desconfiança e o pessimismo. Jogará contra a economia e, por conseqüência, contra a avaliação positiva recorde dele e do governo. Já uma redução na dose dos juros teria um efeito simbólico altamente benéfico.
Primeiro, porque reforçaria o discurso oficial de crença na força do país para atravessar a tormenta financeira. Segundo, porque daria fôlego aos investimentos e ao consumo, que têm sido os motores do crescimento econômico brasileiro e do tal ;mercado de massa;. ;Estamos com a casa arrumada e vamos mantê-la arrumada. Em outros tempos, 96 horas depois (do início da crise) o Brasil já estaria de joelhos;, declarou o presidente em reunião da coordenação política, na quarta-feira.
Mantega
Lula conversou longamente com Meirelles nos últimos dias no Palácio do Planalto. E não ouviu só queixas. O presidente do BC reforçou que o Brasil está mais preparado para enfrentar a crise internacional, mas avisou que é preciso unidade nas ações do governo, que não devem ser tomadas de forma atabalhoada, para não criar mais problemas do que os que já estão aí. Essa recomendação teve como alvo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que estaria encabeçando a rebelião contra o aumento dos juros.
Em encontro com o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas, Lula afirmou que o governo está atento à crise mundial e que está tomando todas as medidas para que não falte crédito no país. Freitas ressaltou que o presidente se mostrou ;extremamente ligado; nos problemas, mas procurou tranqüilizar os produtores. O empresário elogiou a antecipação da liberação de R$ 5 bilhões para o crédito rural, medida que ele qualificou como uma ;ação preventiva extremamente importante;.