Economia

"Uso criativo" de reservas poderá dar mais liquidez ao mercado

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postado em 03/10/2008 15:02
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse hoje (03) que o governo poderá fazer "uso criativo" das reservas internacionais do País, atualmente em cerca de US$ 207 bilhões, para dar mais liquidez ao mercado financeiro. Mantega, contudo, não detalhou quais seriam essas medidas, mas ressaltou que os leilões de venda de dólar conjugada com compra futura que o Banco Central (BC) promoveu recentemente não alteraram o nível das reservas. Em resposta a jornalistas sobre essas eventuais medidas, ele apenas respondeu: "no momento oportuno, vocês terão conhecimento". Durante o encontro com empresários que representam a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), na capital paulista, o ministro afirmou que o "momento atual é traumático". "Tomaremos todas as medidas necessárias, pois o governo tem um arsenal grande. É só identificar os problemas", reforçou. Mantega acrescentou que o governo já vem tomando medidas para evitar a restrição da liquidez, causada pela turbulência internacional. Mas procurou acalmar os empresários, afirmando que a situação é passageira. "A crise não vai acabar logo, mas momento de estresse é passageiro." Ele comentou ainda que o governo vem propondo novas medidas para fomentar o crédito na área de exportação. Segundo Mantega, "felizmente" o dólar está sendo corrigido para cima. "Este câmbio (ao redor de R$ 2) é muito melhor, tanto para baixar as importações quanto para estimular a exportações", disse. Para ele, uma das vantagens dos produtos estrangeiros em relação aos brasileiros era unicamente a variação cambial, e não sua qualidade ou competência do produtor. "As exportações deverão melhorar a partir deste câmbio", calcula. Inflação Mantega disse que a "correção" da taxa cambial, além de ser oportuna, não é indesejável ainda que afete um pouco a inflação e o saldo em transações correntes com a saída organizada dos investidores. "Minha impressão é de que o câmbio não voltará aos patamares em que estava no passado", previu. "O câmbio deve se localizar em patamar mais realista e mais desejado", continuou. Ele atribuiu a redução do saldo da balança comercial do País ao dólar até então baixo e ao aumento do preço do petróleo no mercado internacional, já que a compra de diesel tem grande peso nas contas do comércio exterior brasileiro. Provocado pelos empresários sobre uma eventual participação do governo na formação da cotação do dólar, Mantega afirmou: "de fato, o governo influencia o câmbio sim." Ele explicou que o País passou a acumular reservas internacionais em 2006, ano em que ele ingressou nos quadros do governo. Segundo o ministro, se essas compras não fossem feitas, o dólar teria ido para o nível de R$ 1,20, R$ 1,30. "Chegamos a comprar quase US$ 90 bilhões em um ano, mas câmbio flutuante ainda é a melhor modalidade", ponderou, acrescentando que o governo não pretende alterá-la. Juros - Mantega ressaltou que a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), utilizada na concessão de crédito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), está no patamar mais baixo da história. "A taxa está quase negativa", calculou, levando em consideração uma taxa anual de 6,25% e inflação acumulada em 12 meses em aproximadamente 6%. Segundo ele, esta é uma das provas de que o governo vem buscando fomentar o investimento em desenvolvimento do País. "Os investimentos são mola mestra para o crescimento", considerou. Mantega ressaltou que o governo já tomou várias medidas nesta área, mas admitiu que os problemas não estão todos resolvidos. "Crédito é fundamental principalmente para os segmentos de médias e pequenas empresas", afirmou, acrescentando que o aumento do volume dos recursos do governo tem sido transmitido ao setor privado por meio da Caixa Econômica Federal (CEF), Banco do Brasil e BNDES. Para o ministro, o Brasil ficou quase 20 anos com nível de atividade "medíocre" e lembrou que nesse período a taxa de crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) era de uma média de 5% ao ano. "O Brasil não estava preparado para expansão de 17% ao ano da FBCF que temos agora", declarou. Para ele, é necessário reestruturar o País para que ele dê respostas. Faz parte do trabalho do governo, portanto, segundo o ministro, o aumento do crédito, o alongamento dos prazos e a redução dos juros. "Temos que caminhar nesta direção e já temos avançado. Me comprometo com os senhores a elevar o crédito, reduzir tributos e diminuir os juros", enumerou. Mantega criticou a atuação dos governos anteriores que, de acordo com ele, tiveram pouca representatividade para o crescimento do País, acreditando que o setor privado resolveria tudo. "Mas não resolve. Precisamos de R$ 100 bilhões para o BNDES, quem sabe R$ 150 bilhões", cogitou o ministro, esclarecendo aos jornalistas que isso se tratava de um desejo e não necessariamente medidas em estudo. Na avaliação de Mantega, com o novo patamar do câmbio é possível aumentar o crédito e reduzir os tributos.

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