postado em 03/10/2008 17:51
O fim da "novela" do pacote anticrise nos EUA trouxe pouco alívio para os mercados nesta sexta-feira (03/10). A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) voltou a fechar com forte queda enquanto o dólar atingiu seu preço mais alto em 13 meses. E no epicentro da crise, a Bolsa de Nova York perdeu 1,50%, em meio ao pessimismo generalizado dos investidores sobre a economia americana.
E os efeitos da crise americana já fizeram sentir nas empresas. Devido às turbulências recentes no mercado internacional, a Aracruz Celulose admitiu perdas com operações de câmbio e suas ações despencaram.
O termômetro da Bolsa, o Ibovespa, amargou retração de 3,53% e desceu para os 44.517 pontos, o nível mais baixo desde 28 de março de 2007. O giro financeiro continua reduzido: R$ 5,03 bilhões, abaixo da média do mês passado (R$ 5,3 bilhões/dia), que já registrou o volume mais estreito de negócios na comparação com outros meses. A Bolsa de Nova York concluiu os negócios em queda de 1,50%.
O dólar comercial foi cotado a R$ 2,046 na venda, o que representa um salto de 1,13% sobre a cotação de ontem. Trata-se do maior preço para a moeda americana desde 16 de agosto de 2007. A taxa de risco-país marca 356 pontos, um aumento de 4% sobre a pontuação anterior.
As Bolsas européias, que fecharam antes da votação na Câmara, são o retrato mais claro da animação dos investidores antes da votação. Em Londres, o índice FTSE subiu 2,26%, enquanto o índice Dax, do mercado de Frankfurt, avançou 2,41%. Cumprido o "script" esperado por analistas e investidores, no entanto, as Bolsas de Valores começaram quase que imediatamente a cair. Embora vários economistas admitam que o pacote é fundamental para restabelecer a confiança no sistema bancário, é opinião corrente também que a economia americana mostrou números cada vez piores nos últimos dias.
Ontem, o mercado já reagiu bastante mal a dois dados que mostraram a desaceleração do crescimento econômico dos EUA: as encomendas às indústrias tiveram uma queda de 4% em agosto, a pior em dois anos; a procura pelos benefícios do auxílio-desemprego atingiu seu maior patamar desde 2001.
E nesta sexta-feira, os investidores tiveram ainda mais motivos para temer o pior: a destruição de postos de trabalho em setembro (159 mil vagas) foi muito acima do esperado (95 mil), o que pode ter um efeito cascata sobre o consumo e produção. "A retomada da confiança, o retorno do crédito e a melhora dos mercados deve ser gradativa e não deve conseguir evitar uma desaceleração mais forte e prolongada das economias desenvolvidas, com impactos para as emergentes", avalia Miriam Tavares, diretora da corretora AGK em comentário divulgado logo após a votação na Câmara.
Para analistas, a reação de hoje somente sinaliza o mau humor reinante nos mercados financeiros: as más notícias geram "pânico" e derrocada das Bolsas; as boas notícias, quase indiferença.
Empresas
As ações da Aracruz lideraram a fila das maiores baixas do dia, no rol dos papéis que compõem o Ibovespa. A ação preferencial dessa companhia despencou 24,80%. Logo abaixo na fila, a ação ordinária da BM-Bovespa recuou 13,69%. E na terceira posição, a ação ordinária da JBS sofreu retrocesso de 11,61%.
A Aracruz, que já havia advertido os acionistas sobre perdas em operações de câmbio no mercado futuro, revelou na noite de ontem o tamanho do prejuízo sobre o caixa da empresa. Segundo a empresa, uma auditoria contratada para avaliar as operações constatou um valor justo ("fair value") negativo em R$ 1,95 bilhão (na data do dia 30 de setembro).
O chamado "fair value", no jargão do setor financeiro, representa o valor de mercado de um bem, serviço ou ativo financeiro (no caso, as posições da Aracruz no mercado futuro).