postado em 04/10/2008 09:13
O risco de bancos pequenos e médios no Brasil quebrarem levou o Banco Central a agir às pressas na noite de quinta-feira. A grande preocupação é evitar que uma contaminação no sistema financeiro nacional pela crise internacional crie um clima de desconfiança. Os sistemas de segurança da instituição detectaram problemas localizados em alguns bancos, que, sem apoio de seus parceiros, não conseguiram fechar o caixa. O repasse de dinheiro no sistema interbancário, no qual os bancos trocam recursos entre si, praticamente secou para os menores. Do que havia de liquidez disponível, tudo caminhava para os cofres dos bancões, considerados, nesses tempos de incerteza e de grave crise mundial, os únicos portos seguros do mercado.
O raciocínio dentro do BC é o seguinte: não há como o governo deixar algum banco quebrar neste momento. Por mais que o problema seja localizado, a população pode associar o fato à quebradeira de instituições nos Estados Unidos e acreditar que aqui, onde o sistema financeiro é sólido, os bancos passam por problemas semelhantes. ;Seria um desastre;, admitiu um técnico do BC. Por isso, a instituição vai agir, sempre de forma preventiva, para ;destravar o nós do mercado;. E isso passa por mais liberação de compulsórios, se preciso for.
Com o sinal de alerta ligado, o BC agiu logo no início da noite para montar a operação de socorro. Permitiu que bancos com patrimônio superior a R$ 2,5 bilhões usem até R$ 23,5 bilhões que recolheram compulsoriamente sobre depósitos a prazo (certificados de depósito bancário, CDBs) para comprar carteiras de crédito de instituições menores e, dessa forma, injetar dinheiro na parcela do sistema que está à mingua. Nove dias antes, o BC já havia liberado R$ 13,2 bilhões em compulsórios, dos quais R$ 5,2 bilhões para os banquinhos. Mas esse volume de recursos se mostrou insuficiente para suprir o mercado, que não só viu as fontes externas de financiamento se fecharem, por causa do estouro da bolha imobiliária americana, como enfrentou a escassez e a carestia das linha internas.
Juros atrapalham
Apesar da confiança de que o dinheiro será suficiente para dar vida nova aos bancos menores, a diretoria do BC passou a sexta-feira conversando com os comandantes dos grandes bancos, para se certificar do interesse deles pelas carteiras de crédito dos banquinhos, quase todos especializados em empréstimos consignados, financiamento de veículos e operações com empresas de médio porte. A razão de preocupação do BC está no fato de os R$ 23,5 bilhões estarem aplicados em títulos públicos, que rendem, sem nenhum risco, 13,75% ao ano. ;Na atual conjuntura, com tantos prejuízos acumulados no mercado, fica difícil acreditar que os grandes bancos privados vão trocar a segurança dos títulos do governo pelas carteiras de crédito de bancos pequenos;, disse Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor da Área Bancária e da Dívida Pública do BC.
Avisado da nova liberação de compulsório por telefone, pois estava a trabalho em Buenos Aires, na Argentina, o presidente do BC, Henrique Meirelles, está confiante de que a irrigação do sistema será suficiente para contornar os problemas. Sócio-diretor do Banco Modal, Flávio Stanger também aposta no sucesso da operação, já que os grandes bancos vão se animar com a perspectiva de ampliarem seus ganhos com as carteiras de crédito, que, segundo ele, são de boa qualidade, pois os banquinhos se especializaram em operações de baixo risco. ;Essas carteiras vão render bem mais do que os 13,75% ao ano da Selic.; ;Houve o que o mercado chama de descasamento. Bastante dinheiro a receber, mas sem nada no caixa no curto prazo;, explicou Jayme Alves, analista da Corretora Spinelli.