Jornal Correio Braziliense

Economia

Indefinições sobre dólar dificultam tomada de decisões no país

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A crise financeira internacional já mostra os primeiros estragos na economia brasileira. Com as quedas consecutivas nas bolsas de valores ao redor do globo e a valorização muito repentina do dólar, alguns setores da economia nacional puxaram o freio de mão e vão esperar o cenário se acalmar para tomar decisões. Mesmo tendo fechado em queda de 1,38% ontem, a moeda americana acumula alta de 28,38% neste ano e ainda deve demorar a chegar a um câmbio estável, o que tende a atrasar ainda mais as negociações no país. A forte variação da taxa de conversão do dólar atrapalha a definição dos preços por parte das empresas brasileiras que ficam sem saber que cotação usar nas exportações e que valor cobrar por suas encomendas. ;Uma fatura emitida hoje para daqui a 30 dias pode virar pó havendo uma desvalorização do real no nível dos últimos dias;, exemplifica Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Segundo ele, o momento é de cautela para não deixar que a especulação dite as regras da economia real. ;O melhor é parar e olhar para não tomar decisão em cima de uma variável tão sem controle;, alerta Barbato. Essa foi a decisão da Semp Toshiba. A empresa suspendeu as vendas por prazo indeterminado até que se consiga calcular os reajustes. As indústrias mais afetadas são as de computadores e celulares, cujos produtos chegam a ter 70% de componentes importados. São elas as que mais devem elevar o preço das mercadorias. Ninguém se arrisca a prever qual será o patamar do dólar depois que a poeira baixar. ;Como o mercado enlouqueceu, já tem fornecedor que suspendeu as vendas, por não ter mais referência de valor;, lamenta o empresário João Batista Alves dos Santos, sócio da gráfica Athalaia. ;O preço estava compensando e o papel importado ganhou muito espaço. Boa parte desse papel está no porto, nem foi nacionalizado ainda. Mas não será surpresa se em uma semana os importadores cobrarem preços 30% ou 40% maiores. E não tem como evitar que isso acabe chegando ao consumidor final;, diz. Estoques Outro ramo da economia que estava com insumos importados com preços vantajosos, o setor de madeira e móveis teme um salto no custo do MDF, o aglutinado presente em projetos moveleiros em geral. Para o dono da Kaisen Marcenaria, Marcone Matias, a alta do dólar contribui com uma certa especulação no ramo, pois quem já trouxe o material com valores ;velhos; aproveita para estocar enquanto espera novas subidas da moeda americana. ;Os fornecedores esperam para ver o comportamento do dólar, ou mesmo seguram a mercadoria apostando em novas altas;, diz. A indústria farmacêutica também deve sentir a variação da moeda americana, mas os preços dos medicamentos vão demorar mais a subir já que muitos dependem de autorização do governo federal. ;Os produtos com maior quantidade de insumos importados serão reajustados. Mesmo aqueles que já estão no Brasil terão recomposição do câmbio;, prevê José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Esse repasse de preços deve atrapalhar o Natal dos brasileiros. ;Estamos perdendo dias e horas preciosas de negociações, não vamos mais alcançar os 11% previstos de crescimento para nosso setor neste ano;, confessa Barbato. Os prejuízos, no entanto, não devem ser tão fortes. ;O nível de comprometimento do Natal deve ser maior ou menor de acordo com a quantidade de crédito na mão do consumidor;, avalia o presidente da Abinee.