postado em 09/10/2008 17:48
Os dois executivos brasileiros da construtora Norberto Odebrecht permanecem desde o dia 23 de setembro no Equador impedidos de deixar o país pelo governo local. Fernando Bessa e Eduardo Gedeon estão hospedados na residência oficial do embaixador brasileiro no país, Antonino Marques Porto e Santos. Naquela data, além de reter os brasileiros, o governo ordenou a militarização das obras que estavam sob responsabilidade da Odebrecht.
Segundo a empresa e o Ministério das Relações Exteriores, Bessa e Gedeon passam bem e não estão em situação de risco. De acordo com informações apuradas pela Folha Online, os executivos têm direito a livre circulação dentro do território do Equador, mas só podem retornar ao Brasil após autorização do governo.
O presidente equatoriano, Rafael Correa, assinou um decreto no dia 23 do mês passado ordenando o embargo dos bens da Odebrecht e proibiu que quatro funcionários da empresa (Bessa, Gedeon, Fabio Andreani Gandolfo e Luiz Antonio Mameri) deixassem o país.
De acordo com a construtora, Gandolfo e Mameri não estavam no país quando do anuncio do decreto e, portanto, não foram retidos. Ainda segundo a Odebrecht, Bessa morava no país e Gedeon estava de passagem pelo Equador.
Expulsão
Na noite de ontem, Correa rejeitou o acordo com a Odebrecht e anunciou a expulsão definitiva da empresa de seu país. Segundo o governo, Correa cedeu "muito", mas a empresa "definitivamente" não pode estar no Equador. Na semana passada, a construtora havia anunciado um acordo com o governo sobre a reforma da usina hidrelétrica de San Francisco. A empresa brasileira se comprometeu a depositar uma garantia de US$ 43 milhões até que se apure a culpa pela paralisação da central ocorrida em junho, após ter entrado em funcionamento um ano antes.
Consultada, a assessoria de imprensa da Odebrecht informou que não vai comentar a decisão do Equador enquanto a medida não for oficializada por um decreto presidencial.
Retaliação
Apesar do ministro coordenador de Áreas Estratégicas do Equador, Galo Borja, achar que a situação com a construtora não possa afetar a relação entre os governos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu de forma mais dura e determinou o adiamento de uma missão ao país vizinho que estava agendada para o próximo dia 15.
Além da Odebrecht, o país vizinho também está em atrito com a Petrobras, exigindo da estatal brasileira a renegociação de contratos de exploração de petróleo no Equador.
Em nota divulgada hoje pelo Ministério de Relações Exteriores, o presidente, através do ministro Celso Amorim, instruiu que o Embaixador do Brasil no Equador, Antonino Marques Porto e Santos, entrasse em contato com a chanceler equatoriana para cancelar a missão que seria chefiada pelo ministro dos Transportes, Alfredo do Nascimento, que discutiria apoio brasileiro a obras de infra-estrutura viária no país. "Em face dos últimos desdobramentos envolvendo empresas brasileiras naquele país, que contrastam com as expectativas de uma solução favorável quando do recente encontro entre os dois presidentes em Manaus, o governo brasileiro decidiu postergar sine die (sem data definida) a ida ao Equador", diz a nota.
Petrobras
Em relação à Petrobras, Correa ameaçou no último sábado nacionalizar um campo da empresa, que produz 32 mil barris de petróleo por dia, caso a petrolífera não renegocie seu contrato. O acordo atual dá ao Estado 18% do petróleo, mas o presidente equatoriano quer que o país fique com toda a extração, em troca do pagamento dos custos de produção e uma margem de lucro às companhias de petróleo.
Na terça-feira, Lula afirmou que a Petrobras poderá deixar o Equador se não houver um acordo satisfatório para que a empresa continue suas atividades exploratórias. No dia seguinte, o ministro Celso Amorim reafirmou essa possibilidade, mas destacou que a estatal tem que ser "compensada" pelos investimentos que fez.