postado em 10/10/2008 08:43
Começam a vir à tona os estragos palpáveis da crise financeira internacional no mercado brasileiro. A maioria dos bancos nega, mas o crédito está mais escasso sim. E os juros, subindo assustadoramente. Linhas de financiamento de veículos e até empréstimos com desconto em folha, que apresentam o menor risco de inadimplência do mercado, já começam a ser suspensas.
;O único banco que tem linha de crédito consignado disponível é o BRB. Vários servidores que procuraram outros bancos nos últimos dias não conseguiram, pois as instituições suspenderam esse tipo de empréstimo nas últimas semanas por causa da crise americana;, afirma Vilmak Oliveira, presidente da Associação de Apoio à Carreira do Policial Civil do Distrito Federal. O empresário Júlio César Peres, da construtora Ipê-Omni, foi avisado pelo banco que o pior está chegando. ;Os juros subiram de 10,5% para 12%. Mas o pior é que isso não é nada. O valor disponível nesse mercado está sendo reduzido em torno de 70%, segundo o banco;, conta Peres .
Juvenilce da Silva, servidora da Polícia Civil, teve seu pedido de empréstimo com desconto em folha negado. ;Procurei o(s bancos) Matone e o BMG há uma semana, mas disseram que a linha está suspensa e que vão esperar a crise acabar para voltar. Tudo é essa crise;, desabafa. Rosa Ponte, assistente-adminsitrativa da Aliança Crédito Pessoal, confirma. ;O BMG e o Sabemi suspenderam o desconto em folha esses dias e não têm prazo para voltar;, revela. Márcio Araújo, vice-presidente do BMG, porém, nega qualquer suspensão de consignado pelo banco com servidores do DF. ;Somos os maiores interessados, mas ainda não estão permitindo a outros bancos operarem. O BRB tem exclusividade;, afirma. Segundo Vilmak Oliveira, da Associação, entretanto, o banco vinha emprestando para servidores da Polícia Civil.
Automóveis
BMC, Cifra e PanAmericano também suspenderam financiamento de veículos, o que acabou beneficiando a Omni Financeira, que opera com capital próprio. ;Eles podem até aprovar o cadastro, mas não estão liberando o dinheiro. Muitos clientes estão procurando a gente por causa disso;, revela a analista de crédito Marília Andrade. Ainda assim, o volume de financiamentos da Omni caiu para menos da metade, por causa do aumento dos juros, que subiram de 1% a 2% para 2% a 4%. Fontes do mercado revelaram ao Correio que Bradesco e Itaú também suspenderam linhas de financiamento de automóveis nos últimos dias.
Não é impressão dos clientes: os bancos estão criando dificuldades para emprestar dinheiro. Um executivo ligado a uma das principais instituições do setor contou ao Correio que uma das estratégias usadas é vencer os interessados ;pelo cansaço;. São criadas tantas exigências que o candidato acaba desistindo no meio do caminho. Sem saber o que vai acontecer no mercado nacional e internacional, optam por restringir as linhas de crédito e perder negócios para não se arriscar. Ricardo Malcon, presidente do Conselho Superior da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), revela que esse cenário de arrocho do crédito é realidade em todo o país e engloba todos os bancos. ;O sistema como um todo encolheu, pois não se sabe, exatamente, o tamanho do estrago. Na área de crédito ao consumidor, todas as linhas foram reduzidas;, afirma.
A Cifra Crédito Rápido, do Grupo Schahin, confirmou que ;as operações de crédito para veículos estão suspensas temporariamente e que retornarão ao primeiro sinal de melhora do cenário econômico;. Luiz Carlos França Martinez, vice-presidente do Grupo Sabemi, admite limitação no número de operações no crédito consignando em razão do atual cenário. O PanAmericano também reconheceu que vem adotando uma postura conservadora na sua atuação junto ao mercado de crédito de veículos e consignados. ;Não parou de operar, apenas está mais restritivo;, diz o banco em nota. O Bradesco, que também é dono do BMC, e o Itaú negam a suspensão das linhas de financiamento de automóveis. O Matone também nega ter recusado concessão de crédito consignado. (Colaborou Luís Osvaldo Grossmann)
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