Economia

Meirelles tenta unir cúpula do Banco Central

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postado em 27/10/2008 08:07
Não será fácil a vida do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, de hoje até quarta-feira, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) definirá os rumos da taxa básica de juros (Selic). Apesar de reconhecer que, em meio à atual turbulência externa, elevar os juros pode causar danos pesados à economia brasileira, precisa convencer um dividido Comitê que o momento exige unidade, seja para manter a Selic nos atuais 13,75%, seja para elevar a taxa. Na avaliação de Meirelles, um racha do Comitê neste momento pode criar ruídos desnecessários, especialmente porque é sabido que o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, têm trabalhado pesado nos bastidores para que não haja mais aperto na política monetária, temendo um tombo da economia em 2009. Desde a semana passada, Meirelles vem preparando os ânimos para uma possível parada estratégica no processo de alta dos juros, iniciado em abril último. Ontem, porém, fez uma ressalva, ao deixar a porta aberta para uma postura mais radical: a subida da Selic, como forma de manter as expectativas de inflação sob controle, mesmo com a maxidesvalorização do real frente ao dólar. O sinal do presidente do BC veio por meio de um recado aos críticos da instituição. Ele disse que o tempo mostrou que todas as medidas adotadas pelo BC ao longo dos últimos anos se mostraram acertadas e estão protegendo o país neste momento tão nebuloso. Não será diferente agora, caso o Copom opte pela alta da Selic. A maioria do mercado aposta na interrupção do aperto monetário, pois o grupo mais conservador do Copom, liderado pelo diretor de Política Econômica, Mário Mesquita, já não conta com o apoio incondicional de Meirelles. Para os analistas que mapeiam os votos do Comitê, o presidente do BC deve migrar para a ala mais preocupada com o crescimento econômico, liderada pelo diretor de Normas, Alexandre Tombini. Meirelles tem força para cabalar pelo menos dois votos. Ou seja, se na última reunião, em setembro, o grupo de Mesquita venceu por cinco votos a três para uma alta de 0,75 ponto percentual, com a mudança do presidente do BC, é quase certo que a Selic parará de aumentar. Ao menos até dezembro, quando todos acreditam que o Comitê poderá avaliar melhor os estragos da crise na economia brasileira. Segundo Joel Bogdanski, economista do Banco Itaú, o melhor que o Copom tem a fazer neste momento é optar por uma pausa temporária no arrocho dos juros. ;O recente aperto do crédito, devido à crise, já equivale a uma alta (grande) da taxa de juros. A prioridade deve ser garantir o retorno do sistema financeiro à normalidade. Só depois disso será possível voltar a realizar projeções confiáveis e avaliar a necessidade de novos ajustes na política monetária;, afirma. Ele reconhece que, em condições normais, a forte alta do dólar tenderia a pressionar a inflação. ;Mas as condições estão longe de normais e o atual valor da taxa de câmbio não é visto como permanente. Além disso, há uma série de forças deflacionárias atuando. Uma delas é o recuo rápido do preço do petróleo. A outra, e mais importante, é o baixo crescimento mundial, que afetará a demanda externa por produtos brasileiros;, frisa.

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