postado em 27/10/2008 20:07
O analista da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) Javier Santiso afirmou que a diversidade da economia brasileira e a pouca dependência de remessas vindas dos Estados Unidos amortecerão o impacto da crise financeira no Brasil em relação a outros países da América Latina.
Em entrevista à agência Efe, Javier Santiso, diretor do Centro de Desenvolvimento da OCDE, disse que a região não está imune à crise econômica global, que representa uma ameaça, por ser um "choque financeiro e macroeconômico de primeira magnitude", sobretudo por seus vínculos com os Estados Unidos.
"Não há imunidade a um choque que venha dos Estados Unidos", disse Santiso, diretor do Centro de Desenvolvimento da OCDE, embora tenha destacado que há países latino-americanos que "fizeram seus deveres de casa" ou "têm uma maior capacidade de resistência".
Para ele, o Brasil "tem um sistema bancário doméstico e não muito dependente de fluxos de remessas; é uma economia muito aberta, mas muito diversificada, que não depende apenas dos EUA, mas da Ásia, da Europa".
"Inclusive era possível pensar que poderia haver países - caso a crise não se prolongue muito - com capacidade de recuperação ou de se sair relativamente bem dela, e penso em particular no Brasil, que poderia dar surpresas positivas", acrescentou Santiso.
Além do Brasil, ele ressaltou que "nações como México, Chile, Peru, Colômbia, Costa Rica e Uruguai realizaram processos de ancoragens econômicas muito interessantes ao mesmo tempo que fiscais, comerciais, monetários" que podem lhes proteger do impacto da crise global.
"Eles tiveram ou têm orçamentos equilibrados ou até em excedente, reduziram dívidas e adotaram uma política monetária buscando diminuir a inflação", explicou Santiso.
A inflação "está há mais de uma década abaixo dos dois dígitos na região", acrescentou o analista, embora tenha destacado algumas exceções, "como Venezuela e Argentina".
"Os que conseguiram fazer este esforço de estabilização econômica estão melhor preparados para absorver choques", disse ele, que lembrou que, "no ano passado, quando a crise financeira estava se desenvolvendo muito fortemente, não afetou os países latino-americanos".
"Agora sim que (ela) chega, porque está passando para a economia real", alertou.
"Não há imunidade, mas também não há a fragilidade de há dez anos", reconheceu o analista da OCDE, que publicará na terça-feira o relatório "Perspectivas Econômicas da América Latina-2009".
A organização apresentará em San Salvador os resultados desse estudo, centrado este ano em detectar o vínculo entre política fiscal e o desenvolvimento nos países da região latino-americana.
Segundo Santiso, a vantagem neste momento de crise global é que "a batalha do equilíbrio e do ordenamento fiscal já aconteceu com certo êxito na América Latina".
"Melhoraram também os perfis da dívida e, por isso, a região resiste mais ao choque financeiro que estamos vendo desde o ano passado. Tem melhores perfis de endividamento e uma melhora aqui é substancial", acrescentou.
"Porém, não minimizemos o impacto que vai haver, e vai ser diferente em função dos países. Há alguns que estão na primeira linha de proximidade, por exemplo o México", citou Santiso.
No entanto nesse caso também há diferenças, pois "no México, a situação não é a mesma de dez anos atrás".
"Não estamos falando do que ocorreu então. O México vai sofrer, mas como estão sofrendo muitos países europeus, e talvez menos que muitos destes", precisou.
Santiso alertou que, no caso mexicano, "conforme vá se desacelerando a atividade industrial manufatureira nos EUA, o PIB mexicano também se ressentirá".
Isso porque, segundo ele, "os fluxos de remessas estão diminuindo, não apenas para o México, mas para toda América Central, e os canais bancários também".
"Países que têm sistemas bancários muito internacionalizados vão se deparar provavelmente com sistemas de riscos que vão operar e que talvez vão limitar o crédito", acrescentou.