postado em 29/10/2008 08:51
Quando se fala em falta de medicamentos, a primeira idéia que vêm à tona é o Sistema Único de Saúde (SUS). Mas, por incrível que possa parecer, farmácias e hospitais mantidos pelo governo federal ainda estão blindados contra o desabastecimento de remédios, que já atinge a rede privada, conforme publicou nesta terça-feira (28/10) o Correio. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pela importação de medicamentos para órgãos públicos, garante que o fluxo de produtos segue sem alteração.
Os estoques encomendados entre os meses de abril e maio chegaram em setembro. Se houver algum impacto da crise, só em 2009, segundo a agência. O Ministério da Saúde também é categórico em afirmar que o repasse de recursos e de remédios para a rede pública está sendo feito normalmente. Segundo o órgão, não foi constatado problema de abastecimento nos hospitais públicos.
A ;vantagem; do governo frente à rede privada neste momento turbulento da economia mundial é a forma de contratação das encomendas. Enquanto as farmácias e drogarias estão sujeitas a alterações de desconto e condições de pagamento dos distribuidores, as vendas de medicamentos para órgãos públicos são feitas por licitação e vence o fornecedor que detém o menor preço. Os contratos têm que ser cumpridos, independentemente de mudanças no mercado. Cerca de 80% dos insumos para a indústria farmacêutica são importados. Assim, a alta do dólar se reflete diretamente no custo dos medicamentos.
Licitação
Mas quem vendeu para o governo não tem alternativa: tem que entregar as encomendas nas condições contratadas. Caso contrário, tem que pagar uma multa astronômica. Por enquanto, o laboratório Geolab, que tem 60% do faturamento proveniente de compras de órgãos públicos, ainda tem estoque de matéria-prima cotada a preços anteriores à explosão do dólar para fornecer medicamentos para órgãos públicos. ;Do início de setembro até agora, o dólar Ptax, usado para operações de importação e exportação, passou de R$ 1,56 para R$ 2,25, uma diferença de 44%. Como a empresa trabalha com programação, está sendo mais vantajoso pagar para armazenagem da matéria-prima no porto por até 120 dias, aguardando uma taxa de câmbio melhor;, afirma Rodrigo Nóbrega, gerente de Marketing do Geolab.
;Se a crise se prolongar além disso, porém, teremos que assumir o prejuízo da variação do câmbio pois, com certeza, fica mais barato que pagar a multa por descumprimento de contrato com o governo;, diz. Nóbrega acrescenta que o atraso na entrega de mercadorias também pode impedir o laboratório de participar de licitações públicas.