Economia

Para diretor do FMI, os países emergentes são as próximas vítimas da crise

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postado em 31/10/2008 13:20
Os países emergentes serão as próximas vítimas da crise financeira internacional que começou nos Estados Unidos e se estendeu para a Europa, advertiu nesta sexta-feira (31/10) o diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, em entrevista ao jornal austríaco "Der Standard". Os países de economia emergente "não só deverão enfrentar a baixa de suas exportações e a redução da confiança como também são as últimas vítimas de uma crise financeira que começou nos Estados Unidos, se estendeu à Europa e está transbordando agora para além das fronteiras européias", escreveu o chefe do FMI. Com a retirada em massa de capitais e de investimentos estrangeiros nos países da Europa Central e do Leste, em particular, Strauss-Kahn insistiu "numa certa ironia da história". Ele observou que, atualmente, é mais atraente repatriar aos países altamente industrializados o dinheiro investido nos últimos anos com altos rendimentos nas economias emergentes, por causa das medidas aplicadas pelos dirigentes dos países ricos para sustentar os bancos nacionais em dificuldades. "Isso complica a existência dos países de economia emergente", disse Strauss-Kahn, pois, "para sustentar a demanda nacional, eles devem aceitar adotar medidas similares às anunciadas pelos países altamente industrializados", como as ajudas estatais temporárias aos bancos em dificuldades. No entanto, a recente alta do nível de vida, principalmente nos antigos países comunistas, parece vir acompanhada do acesso a capitais estrangeiros, que vão começar a desaparecer rapidamente. "Estes países não podem enfrentar sozinhos esses novos desafios e os países industrializados devem estar dispostos a garantir os financiamentos que alcançarão uma quantia inédita", acrescentou. Por fim, lançou uma advertência diante da alternativa que consiste em recorrer ao protecionismo, ao controle de bancos e a moratórias, que são fatais para a economia mundial. O diretor gerente do FMI anunciou que proporá ao G20 financeiro "um plano de nova governança mundial", articulado em cinco eixos, que reafirmará o papel regulador da instituição. Ele espera da reunião do G20, prevista para 15 de novembro, que se compreenda "a dimensão da situação histórica que estamos vivendo e, portanto, espera um impulso decisivo, a partir do documento que nós submeteremos ao grupo sobre as lições da crise, para a reforma da governança mundial", declarou em entrevista publicada nesta sexta-feira pelo jornal francês "Le Monde". Strauss-Kahn se mostrou "mais preocupado pelo desaquecimento da economia mundial e suas conseqüências sociais". "Eu quero lembrar que há uma outra crise atrás da crise financeira: a crise nos países pobres, atingidos em cheio pelo encarecimento das matérias primas e dos produtos alimentícios", disse Strauss-Kahn. "Nos países industrializados, a crise significa queda do poder de compra, mas nos países mais desfavorecidos ela quer dizer risco de fome para alguns, desnutrição para muitos e seqüelas para toda uma geração", acrescentou. O diretor gerente do FMI comemorou que no próximo dia 15 de novembro 20 países vão se reunir e não apenas os sete Estados mais ricos, porque todos os responsáveis adquiriram consciência de que a economia mundial não se reduz mais apenas aos países ricos. Strauss-Kahn viajará nos dias 8 e 9 de novembro a São Paulo para apresentar um documento sobre lições da crise a ministros das finanças e governadores de bancos centrais do G20. Segundo o porta-voz do organismo, David Hawley, o diretor-gerente do FMI conta com um plano de cinco pontos para reafirmar o papel regulador do Fundo e que seriam os seguintes: aumentar a liquidez dos países em dificuldades, aumentar os recursos do FMI, tirar as conclusões necessárias da crise, em termos de políticas econômicas, vigiar a aplicação de novas regulamentações financeiras e ajudar a repensar um sistema mundial mais coerente.

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