Economia

Lucro de empresas de cobrança sobe com crise financeira

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postado em 02/11/2008 09:40
As empresas de cobrança nunca tiveram um momento tão bom como o atual. O segmento, que se alimenta da dificuldade alheia, não tem do que se queixar. Com a explosão do crédito nos últimos anos, mesmo com os índices de inadimplência permanecendo mais ou menos estáveis, o volume de contratos administrados se multiplicou. Na mesma proporção, subiram os lucros das agências, que são cercados de um certo sigilo. Com dinheiro em caixa, os empresários investiram na ampliação da capacidade de atendimento e na contratação de funcionários. Caçar devedores se tornou um bom negócio. ;Com o boom em todos os segmentos de crédito, o nosso setor ficou bastante atraente e cresceu muito;, confirma o economista Flávio Brandão Nogueira, sócio da N Assessoria e Consultoria. Não há números precisos sobre o tamanho do mercado no Brasil ou mesmo no Distrito Federal. Mas os exemplos de prosperidade pululam. Desde 2004, a N triplicou o número de contratos cobrados. Hoje, está no encalço de 400 mil devedores para clientes como Citibank, Itaú, Caixa Econômica Federal, C e Poupex. A empresa tem 108 funcionários, que trabalham em 54 pontos de atendimento nos dois turnos. Na avaliação de Nogueira, depois do calote inicial, o brasiliense costuma se esforçar para pagar as contas. ;Ele até discute o valor da dívida e negocia descontos, mas acaba resolvendo;, diz. Segundo o economista, a maior renda e escolaridade no DF influenciam nos índices de recuperação de crédito, que dependem do tipo de financiamento. O recebimento pós-vencimento de empréstimos na compra de automóveis chega a 95%, pois ninguém quer perder a garantia, que é o próprio carro. A experiência da Multicobra com os brasilienses é diferente. Nos cálculos da empresa, a inadimplência entre os consumidores no DF fica por volta de 5%, enquanto o índice de recuperação na carteira geral (empréstimos pessoais, cartão de crédito e cheque especial, por exemplo) está em torno de 30%, oito pontos percentuais maior do que o de São Paulo. Com 11 filiais em todo o país, a Multicobra percebeu uma mudança no perfil dos devedores nos últimos anos, com maior participação das classes C, D e E. ;Algumas pessoas tiveram crédito pela primeira vez e se atrapalharam. Quando recebem a cobrança, alegam que tomaram mais empréstimos do que tinham condições de pagar;, afirma o gerente de Operações da Multicobra, Alessandro Maia. O número de contratos administrados pela empresa cresceu pelo menos 30% neste ano. Hoje, são cerca de 30 mil por mês no DF e mais de 1 milhão em todo o país. A agência contratou 350 pessoas em dois anos, passando para 1.150 funcionários no total. Entre seus clientes, estão os bancos Santander, Bradesco, Fiat e Unibanco, o Credicard e a Telefônica. Em Brasília, são 60 cobradores trabalhando em dois turnos. Segundo o gerente da filial local, Janderson Clériston, a abordagem aos devedores é ;suave; para não ferir as regras do Código de Defesa do Consumidor (veja quadro abaixo). ;Não constrangemos ninguém. Também não adianta insistir. Isso é antigo e não funciona. Os agentes explicam tudo e dão a oportunidade de o devedor negociar;, afirma. Reclamações Consumidores reclamam, entretanto, dos métodos usados por algumas empresas. A comerciária Elizabete de Souza conta que recebeu tantas ligações de uma agência que perdeu a paciência. ;O sujeito transformou a minha vida num inferno por causa de um empréstimo bancário;, diz. O sossego da operadora de telemarketing Joana Martins também foi abalado por causa de uma dívida feita para a compra de uma televisão. ;O cobrador me ameaçou. Disse que era melhor eu pagar porque, senão, o meu nome ia ficar sujo e ele ia me botar na Justiça;, afirma. Ambas acabaram negociando um prazo maior para a quitação. Para o diretor da Emcob Cobrança, Josué Ribeiro Guimarães, insistir é fundamental. ;Não dá para entrar em contato com muita freqüência, pois isso é inconveniente. Mas é preciso lembrar ao consumidor que ele tem a dívida. Quando bater um dinheirinho no bolso, ele vai pagar primeiro quem está cobrando;, diz. Segundo ele, a crença de que as classes mais baixas são boas pagadoras é um mito. Na sua experiência, trabalhadores de baixa renda são os de maior risco, como os bancos estão vendo após a farra do crédito. Depois de uma vida dedicada à administração de grandes supermercados, Guimarães decidiu montar o negócio próprio. Em seis meses, o número de contratos sob sua responsabilidade cresceu 30%, atingindo 15 mil por mês. Na Emcob, são nove empregados e seus principais clientes estão no comércio, como Lojas Otoch, Pioneira da Borracha, Disbrave e SuperMaia. As agências são remuneradas por um percentual do valor recuperado (10% a 40%), dependendo da dificuldade de recebimento. ;Quanto mais antiga a dívida, mais difícil recebê-la. Só conseguimos recuperar no máximo 5% dos cheques sem fundo depois de 90 dias, por exemplo;, diz. Leia mais na edição impressa do Correio Braziliense

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