Economia

Dólar em alta melhora salário

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postado em 09/11/2008 09:28
Se a valorização da moeda norte-americana está prejudicando a população brasileira com o aumento de preços de produtos importados e os que têm insumos comprados de outros países, para parte dos trabalhadores a queda no valor do real é benéfica. Após meses acumulando perdas em seu poder de compra, os assalariados que ganham em dólar estão comemorando a volta por cima da moeda dos Estados Unidos. Nesse contingente entram parte dos funcionários de embaixadas, de organizações internacionais e de multinacionais. O dólar fechou a última semana em R$ 2,16. Com isso, alguém que ganhe US$ 2 mil, por exemplo, estaria ganhando R$ 4,3 mil. Há exatamente um ano, o salário era de R$ 3,4 mil. Um incremento de 21%. Osvaldo Martins de Almeida, funcionário de uma embaixada em Brasília, sentiu no bolso as mudanças do câmbio desde 2003. Em seu local de trabalho, os salários pagos em dólar foram reajustados nos últimos cinco anos, mas, mesmo assim, não representam mais a mesma quantia em real. Em 2003, a remuneração de US$ 1 mil era o mesmo que R$ 3.080,00. Em 2007, o rendimento pago para o mesmo cargo em dólar era de US$ 1.546, o equivalente a R$ 2.999,24, ou seja, o reajuste em moeda americana não cobriu nem a inflação do período. Passado ;Fui castigado duramente com a desvalorização do dólar. Cheguei a perder 60% do meu poder de compra com as variações do câmbio nesses cinco anos;, revela Almeida. Como havia assumido compromissos de acordo com sua renda no ano de 2003, o trabalhador enfrentou dificuldades para pagar as prestações. ;Tive de vender um apartamento para cobrir as contas;, afirma Almeida, que também é diretor do Sindicato dos Trabalhadores nas Embaixadas, Consulados e Organismos Internacionais (Sindnações). De acordo com a instituição, existem cerca de 8 mil funcionários nas embaixadas de Brasília. Desse total, 30% recebem em dólar. Os rendimentos variam de uma representação a outra. Um motorista, por exemplo, ganha de US$ 700 a US$ 1.200. Os reajustes também são aleatórios. Em algumas embaixadas o valor pago em dólar não sobe desde 2003, ou seja, além das perdas cambiais, os empregados não tiveram nem a correção pela inflação na moeda americana. Atualmente, os trabalhadores cujos salários são dolarizados começam a ver o orçamento apresentar uma folga. Segundo Almeida, para muitas pessoas, o aumento do dólar vai proporcionar a recuperação das perdas anteriores. Evitar dívidas e trabalhar fora Com a moeda americana valorizada, o momento é de colocar as contas em dia, explica o professor e educador financeiro Mauro Calil, da Calil & Calil. ;Aconselho quem recebe em dólar a manter o padrão de vida atual e poupar o diferencial.; Segundo Calil, o melhor na atual situação (aumento da inflação), é quitar as dívidas e se preparar para novas quedas da moeda. Uma dica é pagar as parcelas que faltam tentando negociar descontos pelo adiantamento e, depois de zerar as dívidas, continuar pagando o mesmo tanto, mas para a própria conta. ;Só não se deve aproveitar esse momento para arrumar mais dívidas;, explica. O jovem Felipe Sant;anna, 20 anos, não está muito preocupado em guardar o dinheiro que vai receber por seu trabalho em uma estação de esqui no Colorado, Estados Unidos. Ele vai atuar por dois meses e espera ganhar entre US$ 8 e US$ 11 por hora de trabalho. O que ganhar, pretende desembolsar em uma viagem de um mês por terras norte-americanas. ;Se eu não precisar vou voltar com o dinheiro e colocar em uma poupança. Depois resolvo o que fazer;, afirma. Mudança A incerteza é o que desmotiva a publicitária brasiliense Roberta Mesquita, de 24 anos, moradora da Asa Norte, a voltar a se arriscar a ter o salário cotado de acordo com a moeda norte-americana. Ex-funcionária de uma empresa que faz cruzeiros marítimos e paga em dólar, ela recusou uma proposta para voltar ao setor. Atualmente, há 1,4 mil brasileiros trabalhando a bordo de algum navio, segundo dados da Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas (Abremar). E a estimativa é que, com a valorização da moeda norte-americana, o número de interessados aumente. No caso de Roberta, o temor é pela grande oscilação. ;Tenho trauma;, define. No ano passado, ela assinou contratos com uma empresa que oferece os roteiros e partiu em fevereiro para um cruzeiro na costa brasileira. O contrato venceu apenas em julho. Quando embarcou, US$ 1 valia R$ 2,10. Mas quando desembarcou, trocou cada um dos dólares que ganhou na viagem por R$ 1,84. Os US$ 8 mil que trouxe na volta, que pela cotação do início da viagem deveriam valer R$ 16,8 mil, se transformaram em R$ 14,7 mil. ;A atual valorização é boa e tem mais gente indo trabalhar nos navios. Mas prefiro ficar em Brasília mesmo e estudar para concurso. Se fosse em euro eu até toparia;, diz.

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