postado em 13/11/2008 10:41
As movimentações dos investidores estrangeiros têm sido um entrave para a recuperação do mercado brasileiro, tanto no câmbio quanto na Bolsa de Valores. Elas explicam em grande parte a resistência do dólar em descer abaixo de R$ 2,10 apesar das ações do Banco Central. No ano, o dólar já subiu 28,9% diante do real.
No câmbio, as apostas dos estrangeiros na alta do dólar feitas no mercado futuro dispararam nos últimos dias. Isso é medido pelas chamadas "posições compradas" em dólar, que atingiram inéditos US$ 12,73 bilhões anteontem. No fim de setembro, eram metade disso.
Quanto mais elevadas as posições compradas, mais fortes são as apostas dos investidores na alta da moeda americana.
Nos momentos em que as apostas são de depreciação do dólar, os contratos de câmbio montados no mercado futuro assumem uma posição "vendida". E era isso o que se verificava até o fim de agosto. Em julho, quando o dólar desceu abaixo de R$ 1,56, as posições líquidas dos estrangeiros estavam "vendidas" em US$ 7,6 bilhões no pregão da BM.
Com a piora da crise internacional e o aumento da instabilidade no mercado financeiro global a partir de setembro, a posição dos estrangeiros se alterou rápida e intensamente.
Se o dólar se depreciasse de forma abrupta neste momento, traria prejuízos aos estrangeiros, que estão pesadamente "comprados". O que ocorreu com empresas como Aracruz e Sadia foi exatamente o inverso: estavam "vendidas" (ou seja, apostavam que o dólar se manteria baixo), e a moeda americana subiu rapidamente.
"Os investidores não ficariam comprados dessa forma se considerassem que o dólar fosse se depreciar", afirma João Medeiros, diretor da corretora de câmbio Pionner. "De sua parte, o BC vem agindo corretamente, atuando sem queimar as reservas. Mas, em um cenário como o atual, o mercado é soberano, e o máximo que o BC consegue é evitar que o real se deprecie ainda mais." O BC já usou mais de US$ 40 bilhões em suas intervenções no câmbio. Das reservas internacionais do país, hoje em cerca de US$ 200 bilhões, foram consumidos apenas pouco mais de US$ 5 bilhões. O resto é de venda de linhas de crédito destinadas à exportação e leilões de "swap" (que seguem a variação da moeda).
Se as "posições compradas" dos estrangeiros significassem apenas uma demanda por dólares, o BC poderia, em tese, ofertar US$ 12 bilhões e zerar essas posições, anulando seu efeito.
Mas esses contratos não significam que os investidores querem dinheiro vivo. Essas operações podem ser montadas apenas para esperar que o mercado supere seu pior momento ou para lucrar com a continuidade de alta do dólar. Nessa segunda hipótese, os investidores vão pressionar para que o dólar não se deprecie.
Todavia, apesar de seu impacto relevante, as apostas dos estrangeiros no mercado futuro não são a única razão para o dólar estar tão apreciado. A saída de recursos do país também tem crescido consideravelmente. Em outubro, o fluxo foi negativo em US$ 4,639 bilhões, pior resultado desde 1999.
Na Bovespa, os estrangeiros têm abandonado o pregão desde junho. No ano, quase R$ 23,5 bilhões deixaram a Bolsa.