postado em 14/11/2008 08:21
Mais uma prova do concurso do Senado teve questões copiadas. Dez das 29 questões objetivas usadas para avaliar os candidatos ao cargo de analista de produção executiva são idênticas à prova para o cargo de assistência técnica em áudio do concurso da Assembléia Legislativa do Tocantins (AL-TO). O teste de onde foram tirados os enunciados e proposições foi aplicado em outubro de 2005 pela Cesgranrio.
Na seleção feita em Tocantins foram oferecidas três vagas para 24 inscritos que deveriam ter completado o ensino médio. Os aprovados e nomeados recebem salários iniciais de R$ 648. No Planalto Central, o salário é quase 19 vezes maior ; R$ 12.264,48 ; e exigiu-se nÃvel superior. O único posto disponÃvel recebeu 65 inscrições. A discrepância foi comentada pela professora de radiojornalismo Ana Seidl. ;Fizeram uma prova boba, primária. Como podem cobrar conteúdo de nÃvel técnico para graduados?; questionou.
As perguntas copiadas representam 33,3% das questões de conhecimento especÃfico e 12,2% de toda a prova, que teve 80 proposições objetivas e duas discursivas que estavam sob a responsabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Com relação à prova do Poder Legislativo de Tocantins, foram copiadas 25% de toda a prova, ou 50% da parte especÃfica. ;IncrÃvel como as questões são exatamente iguais;, comenta Seidl.
Assim como ocorreu na prova para engenheiros mecânicos, em que foram constatados oito enunciados iguais às provas realizadas pelo Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ, neste novo caso a ordem das respostas também se manteve. A exceção foi a questão 65 no teste do Senado (igual à 35 da AL-TO), em que a ordem das opções ;C; e ;D; foi mudada.
Sem coincidência
Comparando as duas avaliações, a professora de radiojornalismo percebeu que metade são cópias idênticas e as cinco demais sofreram pequenas alterações no enunciado. ;Eles mudaram a forma de fazer a pergunta, mas o conteúdo é o mesmo, inclusive com uso das mesmas palavras;, analisa Ana Seidl. Quanto ao conteúdo, ela afirmou que a prova explorou pouco os conhecimentos de radiojornalismo, o que seria próprio para um profissional de produção executiva em rádio. ;Achei que essa prova não avalia bem um profissional para esse cargo;, resume.
O coordenador do Núcleo de Concursos da FGV, Michel Jordan, admitiu que os professores são contratados para formular questões inéditas. ;Não tem como ser mera coincidência;, admite. De acordo com Jordan, a empresa não mantém uma banca fixa de formuladores de questões e, sempre que há um concurso, esses profissionais são contratados. ;A cada contrato fechado selecionamos os professores que tenham o perfil necessário para elaborar aquele exame;, relata. Em defesa do ocorrido, o coordenador argumenta que não há ilegalidade em repetir questões de outros concursos. ;O reaproveitamento de questões não é ilegal, mas é antiético e não o incentivamos;, afirma.
Denúncias no MPF
Um grupo de candidatos aos cargos oferecidos pelo Senado Federal protocolou nesta quinta-feira (13/11) uma denúncia no Ministério Público Federal (MPF) contra as irregularidades ocorridas na aplicação das provas. No documento, que também foi protocolado no Tribunal de Contas da União (TCU), os concurseiros pedem a intervenção dos órgãos diante das divergências encontradas entre o edital e os procedimentos adotados para aplicar as avaliações.
;Entre todas as reclamações, a que mais me indignou foi o tempo a mais que alguns candidatos tiveram para fazer a prova. Na minha sala, a prova foi entregue e a ordem foi não abri-la até o toque do sinal;, afirmou um dos autores da petição, que preferiu não ser identificado. O grupo criou ainda uma petição online (http://www.petitiononline.com/mod_perl/signed.cgi?con_sf08), que até as 22 horas de ontem já contava com 179 adesões.
Os candidatos também acusam que atuais servidores do Senado podem ter sido beneficiados na prova para o cargo de editor de TV, pois, segundo os concorrentes, no curso oferecido pela Casa foram abordados pontos que também estavam nas provas e que não são comuns a outros concursos.