postado em 15/11/2008 10:42
O município de Pai Pedro, no Norte de Minas Gerais, a 487 quilômetros de Belo Horizonte, é um exemplar típico dos efeitos perversos na região da combinação entre estiagem prolongada, pobreza e falta de alternativas de geração de renda.
Enquanto recebem água potável unicamente de caminhões pipa do Exército brasileiro desde abril deste ano, moradores da zona rural ; que representam 72,7% dos cerca de 6 mil habitantes - revelam como é dura a vida em um dos municípios do estado com mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano - 0,575, segundo o Atlas Pnud (2000) .
;As águas passadas já produziram pouco e a cada ano menos. A gente planta, mas não colhe de acordo, porque a chuva não dá para vingar tudo;, afirmou à Agência Brasil Tito Borges, 43 anos, dono de uma pequena propriedade ao longo da estrada de terra de 26 quilômetros que liga Pai Pedro à rodovia MGT 122.
;Planto milho e feijão, mas uns 50% foi embora;, diz Tito Borges sobre os efeitos da estiagem que chegou ao fim nesta semana.
Ciente da necessidade de armazenar água para a próxima seca, Borges montou uma cisterna e caixas de captação com apoio do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas (Idene). Mas essa água só serve para cozinhar e lavar. Os caminhões pipa passam uma vez por semana e deixam em média 20 litros de água tratada por morador.
;Quando a água vai ficando pouca, em vez de beber um copo cheio, a gente bebe só metade;, conta. Mas a maior mazela local, segundo ele, é mesmo o desemprego. ;Falta emprego e os agricultores não têm condições de preparar uma roça, comprar sementes. Fica difícil;.
Borges não revela a renda mensal, completada como ; trabalhinhos lá fora;, mas garante que ;tira pouco;. ;Numa crise dessas, quase ninguém tem condição de pagar um dia de serviço. Trabalha quando dá. Um mês trabalha, depois passa dois ou três sem serviço;.
Alguns quilômetros a frente, Fernando Ribeiro 41 anos, acabava de receber a visita do caminhão pipa. Na conversa, logo de cara, o lamento de que nos últimos 15 anos se tornaram comuns secas anuais de oito a dez meses. ;Todo ano é uma calamidade. Se fizer um dívida no banco para plantar roça, depois não tem como pagar;. Na seca, segundo ele, vive com R$ 150 por mês porque ;não aparece na roça um que pague por cinco dias de serviço de alguém;.
A próxima parada do caminhão pipa é na casa de Bernaldina Costa, 49 anos. O banho, segundo ela, é com água de poço que resseca a pele. A crença em dias melhores vem da esperança de que ;Deus mande muita chuva para nós;. Os quatro filhos foram embora para o interior de São Paulo para tentar sobreviver. ;O sonho deles é voltar para aqui. Minha filha ligou e me falou: mãe, arruma um emprego aí para mim. Eu respondi: do quê? Se eu achasse um eu tava dentro;, lamentou.
Ela acusa a administração municipal de só beneficiar os aliados políticos do prefeito: ;As coisas só chegam para quem é amigo do prefeito. Não tive Bolsa-Família nem auxílio de safra perdida;.
O prefeito José Geraldo Rodrigues estava em viagem para Janaúba. Em entrevista por telefone, ele reconheceu que o único gerador de emprego na cidade é a Prefeitura. ;Quem não é empregado da Prefeitura, fica mesmo sem opção;.
A atração de pequenas indústrias, uma possível solução, só será viável, segundo o prefeito, quando for concluída a ligação asfáltica da cidade com a rodovia MGT 122 - obra com recursos já previsto pelo governo de Minas ; e quando houver melhora no sistema de abastecimento e tratamento de água.
Pai Pedro foi emancipada de Porteirinha em 1995. Rodrigues justifica o baixo IDH com a existência de comunidades quilombolas a 60 quilômetros da sede do município, onde pessoas vivem em barracões de madeira e barro. O prefeito garante entretanto, que serão construídas no próximo ano 43 moradias populares para essas pessoas, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento.
Rodrigues rechaça a acusação de favorecer aliados políticos nos programas assistenciais. ;Não perco meu tem com essas coisinhas pequenas;, comenta e informa que 600 famílias do município são beneficiárias do Bolsa Família.
A agente municipal de saúde Augusta Regiane Gomes, 26 anos, conta que se depara diariamente com situações críticas de pobreza na zona rural. ;A gente chega nas casas e tem pessoas que nos falam não ter comida nem para dar aos filhos. Crianças de 12 a 15 anos já são mães;.
O sonho de Augusta, que faz faculdade em uma cidade vizinha, é ter condições financeiras para ir embora do município e levar os pais. Mas o pai dela, Augusto Pinto, 70 anos, há 28 em Pai Pedro, dono de uma pensão no local e com mais sete filhos, nem admite pensar na hipótese. ;Tô sossegado e não vou largar o pouco que tenho para arriscar fora;.