postado em 16/11/2008 08:49
Hotéis, companhias aéreas, restaurantes e empresas de transporte de todo o mundo vão ver seu faturamento cair por conta da crise financeira internacional. O prognóstico não vale para todos, claro, mas para boa parte do setor turístico. De acordo com o boletim divulgado na última segunda-feira pela Organização Mundial do Turismo, órgão das Nações Unidas, o crescimento dessa atividade no mundo deve ser da ordem de 2%, percentual atingido graças ao bom desempenho do setor nos primeiros cinco meses do ano, quando a expansão acumulada ficou perto dos 6%. Entre junho e agosto, a alta registrada foi menor que 2%. Os números, no entanto, não refletem os impactos sofridos pelo Brasil, já que a América do Sul responde por apenas 3% do fluxo mundial de turistas.
Apesar das dimensões assumidas pela crise, alargadas a cada dia, ela não deve diminuir a vontade das pessoas de viajar. Assim como em situações de retração da economia anteriores, os turistas devem optar por viagens mais perto de casa e evitar as longas travessias que, normalmente, são mais caras. O tempo de estadia deve ser reduzido assim como os gastos no destino escolhido. ;O valor a ser gasto vai ser levado em consideração;, afirma Jeanine Pires, presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur).
Segundo ela, as viagens mundiais têm como principais atores os europeus e norte-americanos. A maioria dos passeios, 86%, é feita entre regiões de fronteira. ;O que precisamos saber é o que será mais afetado, se as de pequena distância ou as de longa, o caso do Brasil;, diz Jeanine. Nas estimativas da presidente da Embratur, mesmo com o agravamento da crise em meados de setembro, o turismo brasileiro não deve ser muito afetado até as férias de verão.
De acordo com o instituto, 50% das pessoas que viajam pelo Brasil pertencem à classe A e 25%, à classe B. ;Espera-se que esses grupos sejam os menos prejudicados;, afirma Jeanine. A aposta do setor turístico está concentrada no aquecido mercado interno e nas opções de passeios pela América do Sul, que devem ser beneficiadas pelo câmbio, alto para muitos que planejavam cruzar o Atlântico em busca de férias. A expectativa, segundo Jeanine, é de expansão entre 15% e 17% no gasto dos turistas no Brasil que, até setembro, acumulou US$ 4,3 bilhões.
Efeitos leves
De acordo com o boletim divulgado, América, Ásia e Oriente Médio foram as regiões menos prejudicadas pela crise. Nesse último, o salto do número de viagens foi de 17% nos oito primeiros meses de 2008. No continente americano, o setor atingiu a marca de 6% no mesmo período. A Ásia e a região do Pacífico registraram alta de 4%. Os resultados, entretanto, não conseguiram segurar o tombo do setor que, depois de quatros anos consecutivos atingindo taxa média de crescimento de 7%, deve fechar 2008 com um modesto pulo de 2%.
Nos hotéis da rede portuguesa Vila Galé o estresse na economia mundial mudou o público que se hospeda nos resorts, mas não a quantidade de clientes. ;Com a valorização do real desde 2007, ficamos muito mais caros para o mercado internacional, o que provoca a queda na demanda que, na verdade, vinha sendo experimentada desde o ano passado;, avalia Adriana Borges, gerente de vendas e marketing do grupo no Brasil. Com os navios ; principais concorrentes dos resorts ; a preços mais elevados por causa do aumento do dólar, a expectativa é que a ocupação fique entre 70% e 80% em todos os complexos hoteleiros da rede: um no Ceará e dois na Bahia.
Para o Club Med, grupo dono de três hotéis no Brasil, a crise é uma chance para expandir os negócios. ;Atendemos a um público de classe alta, para quem viajar é uma questão importante, inadiável;, diz Janyck Daudet, CEO do grupo para América Latina. ;Para nós, essa crise é vista como uma oportunidade, mas sempre cuidando dos aspectos na gestão que garantam a rentabilidade do nosso resultado financeiro;, acrescenta.
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