postado em 18/11/2008 08:14
O que os analistas consideravam inimaginável um mês atrás já começa a se desenhar no horizonte de muita gente: a possibilidade de o Brasil registrar um leve e curto período de recessão, com a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre deste ano e nos primeiros três meses de 2009, por causa do agravamento da crise e da brusca retração do consumo e da produção. ;Não será nenhuma catástrofe, pois logo a economia recuperará o fôlego, fechando o próximo ano com crescimento acumulado de 3%;, diz o economista-chefe do Banco BES Investimento, Janckiel Santos. Pelas suas contas, o PIB encolherá 0,5% entre outubro e dezembro e 0,1% entre janeiro e março.
Ainda que sejam números inexpressivos, a teoria econômica assegura que dois trimestres consecutivos de queda do PIB já caracterizam recessão. ;Mas não sei se essa é a melhor definição em relação ao Brasil. Para que pudéssemos dizer que o país realmente passará por uma recessão no sentido exato da palavra, teríamos que ver a diminuição da atividade e do consumo sendo acompanhada de um forte aumento do desemprego e de uma significativa queda da renda. O que não é o caso;, assinala Santos. ;Os resultados do PIB do último trimestre do ano e dos primeiros três meses de 2009 pegarão o auge da crise mundial. Os números refletirão uma freada, mas não uma economia em retração, como é visível nos Estados Unidos, na Europa e no Japão;, destaca.
Para Aurélio Bicalho, economista do Banco Itaú, o certo é que os riscos de os PIBs do quarto e do primeiro trimestres serem negativos são elevados. Ele ressalta que, à primeira vista, é difícil imaginar uma economia que vinha se expandindo a um ritmo acima de 5% apresentar um tombo tão forte. Mas olhando o histórico do país e a forma como a crise o pegou, a queda ;é mais fácil do que parece;. Ele, inclusive, se junta ao grupo mais pessimista de economistas, cujas estimativas apontam para crescimento de apenas 2% em 2009. ;Em momentos de maior insegurança em relação ao futuro, as decisões de consumo e de investimento são adiadas. Logo, menor é a expansão do PIB;, afirma.
Montadoras
Na avaliação da economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, o fator determinante para a retração do PIB por dois trimestres consecutivo será a indústria automobilística, muito dependente do crédito. Ela ressalta que, pelas contas do IBGE, o setor representa 7% de toda a indústria brasileira. Mas a Federação Nacional das Distribuidoras da Veículos (Fenabrave) diz que tal participação do setor vai além das montadoras, o que faz com que o peso da cadeia automotiva chegue a 14%. ;Como a produção e as vendas do setor estão em queda, a ponto de as empresas darem férias coletivas, não há como esperar resultado positivo da indústria e, muito provavelmente, do PIB no último trimestre do ano;, afirma Zeina, lembrando que a retração do crédito afetará quase todos os setores de bens duráveis.
Diretor da Concórdia Corretora, Ricardo Amorim endossa essa visão. No seu entender, além do tombo no mercado interno, o Brasil se ressentirá do encolhimento das exportações. A despeito de o grosso das vendas externas seguir para países emergentes, que, mesmo em um ritmo menor do que o ano passado, continuam em expansão, 42,42% dos produtos vão para a Zona do Euro, Reino Unido, Japão e EUA, todos em recessão. ;São tempos difíceis, que refletem os estragos da crise;, assinala.
Mais otimista, o economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho, acredita que o aumento da renda dos trabalhadores, a formalização do mercado de trabalho e a injeção de quase R$ 80 bilhões na economia por meio do 13º salário farão com que o consumo das famílias se mantenha firme, segurando o PIB do último trimestre de 2008. Nos primeiros três meses do ano que vem, porém, não terá escapatória: os impactos da crise vão se somar à ressaca de início do ano e do Carnaval e derrubar o PIB, para desespero do governo.
Ciente das projeções do mercado, o presidente do BC, Henrique Meirelles, garante que o Brasil sofrerá menos com a crise do que muitos países. Para o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, as estimativas dos analistas não têm consistência, devido à falta de números concretos sobre o desempenho da economia no terceiro e no quarto trimestres do ano.