Economia

Meirelles: risco de crédito aumentou com crescimento econômico, não com crise

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postado em 27/11/2008 16:49
A visão de que o risco de crédito dos balanços dos bancos aumentou com a crise financeira mundial é equivocada: os riscos aumentaram em momentos de crescimento acelerado e de euforia, quando foram feitos empréstimos arriscados, sem análise adequada e com prestação equivocada. A afirmação foi feita pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, nesta quarta-feira (26/11) à noite, em palestra para jovens empresários. De acordo com Meirelles, os problemas foram colocados nos balanços em momentos de euforia, e não de crise, e o prejuízo apenas se materializou quando veio a crise. Na palestra, além de analisar a crise, iniciada no mercado imobiliário norte-americano e que se espalhou pelo mundo nos últimos meses, Meirelles esmiuçou todos os detalhes da situação da economia global, inclusive a do Brasil. Para ele, embora enfrente problemas, o Brasil pode se sair bem da turbulência, porque tem situação econômica mais sólida do que muitos outros países, entre os quais os Estados Unidos. Daí o otimismo com que se dirigiu aos participantes do 14° Congresso Nacional dos Jovens Empresários, reunidos no Centro de Convenções de Goiânia. ;As grandes realizações, os grandes vencedores, plantam suas raízes, fazem seu planejamento e começam, de fato, sua ascensão, em momentos de desaceleração do ciclo econômico;, destacou. Meirelles passou cerca de uma hora apresentando estatísticas e gráficos para justificar suas opiniões otimistas sobre as condições do Brasil para navegar na crise sem perder o rumo. Ele prendeu a atenção das cerca de mil pessoas que assistiram à palestra e, ao final, foi muito aplaudido. As raízes da crise, na visão dele, não foram apenas os empréstimos problemáticos dos bancos norte-americanos, mas os ;ativos tóxicos que foram comprados naquelas oportunidades, em momentos de euforia;, e estão sendo cobrados agora. Como exemplo, citou um casal de brasileiros com quem teve contato em uma viagem aos Estados Unidos. O casal se endividou com empréstimos que os americanos chamam de ;ninja;, no jargão do mercado: empréstimo para alguém que não tem emprego, não tem renda e não tem propriedade. Segundo Meirelles, tais empréstimos foram feitos no pressuposto de que a economia continuaria em forte ascensão. Isso não ocorreu, muitos empréstimos não foram pagos e a crise começou. O casal de brasileiros citado foi vítima dessa situação: ela, arrumadeira, e ele, jardineiro, ganhavam, cada um, cerca de US$ 2 mil por mês, e tinham ;um padrão de vida adequado;. Compraram uma casa financiada por US$ 200 mil, e o corretor ofereceu um empréstimo bancário com juros baixos e sem amortização nos primeiros dois anos. O casal só começaria a amortizar o empréstimo depois de dois anos, com ;um ajuste na taxa de mercado;. Passado esse tempo, e aconselhados pelo corretor, para aproveitar a valorização dos imóveis, tomaram outro empréstimo e compraram uma casa melhor. Depois, financiaram a terceira casa, melhor ainda, e no final do processo, tinham acabado de comprar uma casa de US$ 700 mil. ;Quando chegou a crise, eles perderam a casa, perderam tudo que tinham gasto e ficaram numa situação trágica, do ponto de vista familiar. E o banco perdeu também muito dinheiro;, resumiu Meirelles. Para ele, a lição que fica do episódio é que um planejamento, seja pessoal, familiar, empresarial ou bancário, feito num pressuposto de euforia tem grandes chances de não dar certo.

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