postado em 30/11/2008 18:22
Enquanto alguns setores do comércio vibram com a possibilidade de crescer de 5% a 10% em dezembro, quando a economia é incendiada pelo fluxo do 13º salário, existe um segmento específico que já pode, inclusive, estourar o champanhe. Nos motéis da Região Metropolitana do Recife, fim de ano é sinônimo de freqüência estratosférica, com aumento de até 30% no número de usuários. Para os empresários, gerentes e proprietários, e para os que visitam as casas de prazer, não há crise ou qualquer vestígio de retração, e sim o contrário: paixão e muito lucro.
Diz Alexandre Borba, gerente das duas unidades Eros Hotel (uma há 22 anos em Afogados e outra há uma década na Cidade Universitária), que tarde é igual à noite em dezembro. "O movimento é estabilizado no dia e à noite. A rotatividade aumenta por causa do 13º e porque as pessoas vão para confraternizações", aponta. No Eros, a suíte mais barata custa R$ 49,90 (três horas); a mais cara, R$ 199,90, pelo mesmo período. No Rhodes, na Zona Oeste da capital pernambucana, o crescimento é de 20% e nos finais de semana, as 43 suítes "ficam lotadas", conta o gerente Lacézar Barros. "É festa demais e o 13º já está na rua", resume.
Os números impressionam, mas nenhuma variável desta equação é estranha, como lembra a professora Tatiane de Menezes, do departamento de Economia da UFPE. "Com o crescimento da renda, é natural que as pessoas tendam a gastar mais dinheiro com lazer, com os bens de luxo. O caso dos motéis é um bom exemplo. A proporção é da seguinte forma: para cada 1% do aumento da renda, o consumo dos bens de luxo cresce em proporção direta, duas vezes mais", situa. Afinal, já cantavam os Titãs nos anos 1980, "a gente não quer só comer, a gente quer comer e quer fazer amor#"
Eis a justificativa artística para os dados apresentados por Carlos Rique, 18 anos de experiência no ramo, dono dos dois Lemon, do Fórum, do Malice e do Hotel dos Prazeres. "Dezembro é muito melhor do que junho e o Dia dos Namorados. A freqüência aumenta em 30%. No Lemon Piedade, a gente 'roda' seis vezes por noite. São 20 suítes e entram 120 clientes". O termo "rodada" explica o funcionamento de um motel. "Uma rodada normal é de três vezes o número de suítes. Em dezembro, o Lemon Afogados chega a rodar cinco vezes", sintetiza Rique. Em sua cadeia, há suítes de R$ 19,90 (pernoite de domingo a quinta) e R$ 329,90 (quatro horas, com piscina, cascata e telão).
Marcos Queiroz, proprietário de nove estabelecimentos em Olinda, Recife e Jaboatão dos Guararapes (incluindo o Fidji, Cristal e Praia Norte), não fala em valores, porém celebra dezembro com entusiasmo. "É a época do ano em que o povo vai mais a motel. O 13º injeta dinheiro no mercado e o povo gosta é de amar muito. As pessoas falam em crise, mas o povo que freqüenta motel não tem dinheiro em bolsa", dispara, com bom humor. Queiroz revela outra faceta do movimento de dezembro: "A hora do almoço é cheia de executivos. Parece até fim de semana".
Para os freqüentadores, existem razões além dosR$ 2,14 bilhões que o 13º despeja na economia estadual. Embora confesse que aproveita o salário em "manhãs" de diversão, a comerciante A.L.O., 26, amante de um homem casado, prefere outra linha de raciocínio: "Janeiro é mês de férias, os homens viajam com a família. Em dezembro, eles estão mais livres e com dinheiro no bolso". Já o analista de sistemas R.N., 37, pensa diferente. "Se estiver de rolo com alguém, aí vou uma ou duas vezes por semana. Se não, vai depender da demanda. Ou melhor, da oferta", comenta, com o sorriso típico da solteirice.