Economia

Com estoques em alta, indústria e comércio lutam pela sobrevivência

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postado em 14/12/2008 08:28
A crise que atormenta governo e empresários está jogando a favor dos consumidores ; pelo menos daqueles que estão dispostos a gastar, seguindo o conselho do presidente Lula. Com os estoques elevadíssimos, indústria e comércio estão oferecendo todos os tipos de facilidades para fazer caixa e reforçar o capital de giro, que anda escasso e caro devido à crise de crédito provocada pelas turbulências internacionais. No varejo, as lojas estão dando até 100 dias de prazo para o pagamento das compras. Querem, com isso, garantir receitas futuras até que a oferta de financiamento volte à normalidade. Aqueles que se dispuserem a pagar à vista podem conseguir descontos entre 30% e 50%. E, de quebra, ainda concorrem a vários prêmios, como Ipods, Iphone e carros zero quilômetro.

Do lado da indústria, os estoques elevados estão impedindo o repasse da forte alta do dólar, que, desde agosto, passou de 50%. Em tempos de normalidade, com a economia bombando, essa valorização da moeda americana seria quase que integralmente repassada para os preços ao longo de três meses. Mas com medo de perder vendas e com a atividade em franca desaceleração, as empresas estão preferindo manter as tabelas e até dar descontos para o comércio. É o vale-tudo para minimizar as perdas. ;Ninguém quer virar o ano carregado de estoques. Será um custo altíssimo mantê-los nos níveis atuais;, diz Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora. É por isso, destaca ele, que os índices de inflação estão em queda, mesmo com toda a arrancada do dólar.

Pelo levantamento realizado por Aloisio Campelo Jr, coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o nível de estoques da indústria deu um salto espetacular entre outubro e novembro, quando a crise internacional atingiu seu ápice e os consumidores botaram o pé no freio. Entre as empresas de vestuário e calçados, os estoques deram um salto de quase 20%. Situação semelhante se viu entre as indústrias metalúrgicas, mecânica, de papel, celulose e papelão e de material de transportes. ;Foi um aumento muito rápido. Em agosto e em setembro, o quadro era completamente outro;, afirma.

Na avaliação do economista Cristiano Souza, do Banco Real, a elevação dos estoques coincide com a forte queda dos pedidos do comércio para a indústria. Mensalmente, o Real divulga a evolução desses pedidos e, quanto mais a taxa que mede esse indicador estiver abaixo de 50 pontos, menor é o número de encomendas. ;Em setembro, o índice estava em 49,6. Cedeu para 42 no mês seguinte e bateu em 36,4 pontos em novembro;, conta. Mas não há o que comemorar, acrescenta o economista-chefe da Corretora Convenção, Fernando Montero. ;A forma veloz como os estoques estão aumentando mostra que a atividade econômica está diminuindo muito rápido. E certamente levará tempo para se recuperar, o que baterá no mercado de trabalho, com mais demissões;, alerta.

Acomodação
A economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, lembra ainda que, em algum momento, a alta do dólar será repassada aos consumidores, pois os estoques terão de ser repostos. A grande pergunta que inquieta os economistas é saber quando isso acontecerá e quanto desse repasse chegará efetivamente aos preços. ;Tudo vai depender do nível da demanda, que ninguém sabe ao certo onde vai se acomodar;, assinala. Ela ressalta que os consumidores têm a seu favor o fato de muitas matérias-primas com cotação internacional (commodities) estarem em queda, por causa da recessão de tomou conta dos países mais ricos do mundo. ;Vai haver uma compensação entre o dólar e as commodities. Resta saber qual lado pesará mais;, diz. É por todas essas dúvidas, que o Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ano. O BC quer ver o quadro mais claro para cortar os juros.

Mesmo com todos os benefícios oferecidos pelo comércio, o servidor público Raimundo do Nascimento, 52 anos, optou por segurar os gastos neste Natal. Presentes, segundo ele, apenas aos mais próximos da família. ;Nada de espalhar lembranças;, diz. Uma de suas filhas, Daniela, 20, ainda reclama dos preços altos. E para comprar o tênis de R$ 200 acalentado há meses por Daniela, o pai teve de encarar cinco prestações de R$ 40. Esse tipo de facilidade, porém, não evitará um tombo das vendas no início de 2009. ;Os efeitos da crise no varejo ficarão mais evidentes a partir de janeiro;, explica Cláudio Felisoni de Ângelo, presidente do Programa de Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA). ;Por isso, é natural que as empresas procurem promoções em momento em que as vendas não fluem;, diz.

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