postado em 28/12/2008 08:54
Nas últimas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestiu a camisa de garoto-propaganda do governo, incentivando o consumo como antídoto aos efeitos da crise internacional sobre a economia brasileira. Nada mais legítimo. Mas a retórica deveria vir acompanhada de uma mudança radical de atitude de sua administração, promovendo os reais ajustes que, em meio ao terremoto que varreu o mundo, levarão o Brasil a dar o definitivo salto em busca do desenvolvimento. É o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, quem diz: ;Chegou a hora da virada, do momento em que o país decidirá se vai nadar de braçada ou se ficará lambendo as feridas;.
Não há dúvida de que a mais grave crise mundial em quase 80 anos mostrou um Brasil mais bem preparado. A grande questão, no entanto, é saber que passo a frente será dado pelo país. Até aonde poderá ir a economia brasileira sem esbarrar nas limitações que sempre nos levaram ao fracasso? Que Brasil emergirá da crise?
É justamente com o intuito de trazer essas indagações e desafios para o centro dos debates que o Correio apresenta, a partir deste domingo (28/12), uma série de reportagens sobre o Brasil que queremos. Um país comprometido com avanços sociais, crescimento sustentado, sem estripulias e consciente do que precisa ser feito. Um país que tem a chave para entrar no Primeiro Mundo. Na avaliação do presidente da Concórdia Asset Management, Ricardo Amorim, esse Brasil já está moldado, mas não lapidado.
;Veja como avançamos: em vez de ser vitimado por um choque de juros, como em crises anteriores, estamos discutindo quando e quanto os juros vão cair. A inflação está sob controle. Apesar de todo o estrago da crise, o país crescerá bem acima da média mundial;, diz Amorim. ;Mas é preciso mais;, avisa. Ficar deitado em berço esplêndido será assinar a sentença de morte antecipada. ;Não podemos seguir o exemplo da Argentina, que se antecipou ao Brasil no ajuste macroeconômico, mas não soube dar os passos seguintes e está à beira do colapso;, assinala Zeina Latif, economista-chefe do Banco ING.
O que mais perturba a todos é que as receitas do salto para o futuro são conhecidas e não têm nada a ver com mágicas ; infelizmente, têm sido relegadas ao longo do tempo, por falta de um entendimento mais qualificado dos temas. Desse entendimento, costuma dizer o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, depende algo muito mais relevante: a capacidade do país de avaliar e de responder de forma apropriada a desafios, riscos e oportunidades que a crise, e sua superação no futuro, sempre encerram.
;Mas estamos aprendendo. Os erros do passado foram pesados demais;, afirma o economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho. Para Luiz Rabi, economista-chefe da MCM Consultores, a mudança de patamar do Brasil passa, principalmente, pela melhoria dos gastos públicos, com a redução do custo da administração e a ampliação dos investimentos em infra-estrutura, educação e saúde. Engloba também as sempre adiadas reformas tributária, previdenciária, política e judiciária.
Não é só. ;Nenhuma mudança terá sentido se não vier acompanhada das necessárias intervenções para desatar os nós da economia, como o aperfeiçoamento da regulação e da segurança jurídica, fundamentais para tornar o ambiente de negócios mais atraente aos investimentos produtivos e garantir a criação de empregos. São as chamadas reformas microeconômicas;, acrescenta Flávio Serrano, economista-sênior do Banco BES Investimento.
Sem esses ingredientes, reforça Patrícia Bentes, diretora da Consultoria Hampton Solfise, o governo não conseguirá resgatar o ;espírito animal; dos empresários. ;Muitos desses empresários acreditam que deram um passo além da conta quando a crise chegou. Temem que tenham se enganado. Por isso, a retomada do crescimento não virá acompanhada da retomada dos investimentos;, diz ela.