postado em 28/12/2008 09:05
Ninguém sabe qual vai ser a magnitude e quanto tempo vai durar a crise mundial, mas assim que esse turbilhão passar, uma coisa é certa: o país terá que encarar problemas antigos, como cortes de gastos públicos, se quiser ter uma queda mais acelerada da inflação em médio e longo prazos. Não há como negar que grandes avanços foram feitos nos últimos anos. Tanto é que, há 15 anos, o Brasil registrava inflação anual de mais de 2.000% e hoje convive com números próximos a 6%.
Uma das principais mudanças implementadas ocorreu em 1999, com a adoção do regime de metas. A inovação, no entanto, foi insuficiente para fazer com que os brasileiros passassem a conviver com um índice de preços semelhante ao de nações desenvolvidas, como Estados Unidos e Zona do Euro no período pré-crise. Nesses locais, o indicador gira na casa dos 2%. O Brasil, pelo que indica, vai continuar por um bom período distante desse patamar.
O Banco Central (BC) projeta que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ficar em 4,7% no próximo ano, ligeiramente maior que os 4,5% estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2009 e 2010 ; é permitida uma folga de dois pontos percentuais. Somente em 2010, o país terá uma inflação abaixo do centro da meta. A previsão da autoridade monetária é de 4,2%. Para o sócio da consultoria Integral Trust, Roberto Luis Troster, o próprio valor da meta impede que o país busque uma inflação ainda mais baixa em médio prazo. ;A política econômica é fraca. O governo gasta muito e mal. Tem uma política cambial que depende demais dos preços das commodities (produtos com cotação internacional) e ainda convive com a memória inflacionária;, explica Troster.
Rompimento
Sair desse círculo vicioso, segundo o economista, exige metas mais ousadas de inflação, corte de gastos e aumento da produtividade do país com a aprovação de reformas estruturais. ;Temos, por exemplo, uma legislação trabalhista de 1930. Precisamos mudar isso;, afirma. A economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, concorda. Na avaliação dela, fica praticamente impossível promover reduções mais trágicas na inflação em longo prazo, sem que a equipe econômica promova um corte dos gastos públicos. Como as despesas para administração da máquina crescem sem parar, o país precisa ter uma carga tributária muito elevada, o que de forma indireta é transferida aos preços.
Para isso, é fundamental aprovar as reformas tributária, previdência, trabalhista e, até mesmo, a do judiciário e a política. ;O problema do Brasil está no lado do gasto corrente que impede uma redução da carga tributária. Esse é sempre o cerne da questão. Mas não vejo mudanças nesse sentido;, conta Maristella. O texto da reforma tributária do governo federal, segundo a economista, não resolve o problema porque as despesas públicas permanecem intocadas. ;A carga tributária não será reduzida;, frisa. Temendo uma derrota no Congresso Nacional, a equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fechou acordo com a oposição para retomar o debate da reforma tributária no próximo ano. A expectativa é de que a votação da matéria ocorra até março.
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